quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Titulos,rotulos e outras definições...
Tinha aquela idade das idades dificeis, ja tinha tido contacto directo com as crueis provas que a adolescencia nos reserva, mas nada faria esperar que aquele papel pudesse surgir com tal frieza...
Ele chamava-se Carlos, tocava guitarra, tambem leu o Trainspoting, o Admirável Mundo Novo e vibrou com o Pulp Fiction tanto como eu...tinhamos gostos em comum e éramos amigos como todos os amigos são nessa fase estupida de afirmações e verdades irredutíveis.
Foi numa aula. Não me lembro exactamente do que fiz mas não devo ter pensado muito nisso porque não ficou registado. Provavelmente terei ultrapassado alguma especie de fronteira imposta por ele, algum obscuro caminho no seu labirinto mental que o impeliu a mostrar-me o quão clarividente estava.
Passou-me um papel escrito com uma letra convicta...como se a verdade saí-se numa só penada: "Às vezes és parvo. Estás a sê-lo agora e acho que o vais ser para a vida toda. Aprende a viver com isso e frustra-te."
Brutal. Lindo. Que presença de espírito, que audácia, que sal intenso naquelas palavras...foi avassalador o efeito.
Hoje agradeço-lhe o elogio. Quem conhece a historia do valente soldado Chveik percebe que há vantagens em sê-lo...ou nesse caso fingi-lo (permitiu-lhe escapar ás agruras da guerra assumindo uma atitude de perfeito ignorante). Ou Gil Vicente no Auto das Barcas quando diz "felizes dos tolos pois deles é o reino dos Céus"...
A atitude primitva de superioridade de quem se julga noutro plano é inata nos seres que nos tornámos, vivemos numa vil montra de vaidades em que toda a gente vai tão nua quanto o rei. Mas é bom sabermos o nosso lugar no mundo e guardarmos para os Deuses os designios do nosso destino...e é tão bom surpreender!
Ele chamava-se Carlos, tocava guitarra, tambem leu o Trainspoting, o Admirável Mundo Novo e vibrou com o Pulp Fiction tanto como eu...tinhamos gostos em comum e éramos amigos como todos os amigos são nessa fase estupida de afirmações e verdades irredutíveis.
Foi numa aula. Não me lembro exactamente do que fiz mas não devo ter pensado muito nisso porque não ficou registado. Provavelmente terei ultrapassado alguma especie de fronteira imposta por ele, algum obscuro caminho no seu labirinto mental que o impeliu a mostrar-me o quão clarividente estava.
Passou-me um papel escrito com uma letra convicta...como se a verdade saí-se numa só penada: "Às vezes és parvo. Estás a sê-lo agora e acho que o vais ser para a vida toda. Aprende a viver com isso e frustra-te."
Brutal. Lindo. Que presença de espírito, que audácia, que sal intenso naquelas palavras...foi avassalador o efeito.
Hoje agradeço-lhe o elogio. Quem conhece a historia do valente soldado Chveik percebe que há vantagens em sê-lo...ou nesse caso fingi-lo (permitiu-lhe escapar ás agruras da guerra assumindo uma atitude de perfeito ignorante). Ou Gil Vicente no Auto das Barcas quando diz "felizes dos tolos pois deles é o reino dos Céus"...
A atitude primitva de superioridade de quem se julga noutro plano é inata nos seres que nos tornámos, vivemos numa vil montra de vaidades em que toda a gente vai tão nua quanto o rei. Mas é bom sabermos o nosso lugar no mundo e guardarmos para os Deuses os designios do nosso destino...e é tão bom surpreender!
posted by P.A., 9:56 da tarde
1 Comments:
commented by Anónimo, 2:45 da tarde
Para parvo surpreendes-me muito!
R.