terça-feira, setembro 04, 2007

O passaro que voava sem bater asas


Foi lançado em falésia rochosa, com o Sol a morrer no mar ventoso, lá bem ao fundo.
A principio poderia enganar nas formas lineares quase sem volume, mas a graciosidade dos gestos denunciava-lhe a pouca inércia aos elementos. Descia a pique, contorcia-se em voltinhas e rodopios ("toneaus", dizem os entendidos), subia novamente e permanecia suspenso, como se tivesse nascido ali.
Tinha um mestre. Um Senhor. Aquele que lhe ditava as ordens apeteceu-lhe voar nesse dia, impávido nos comandos, inconsciente do fascínio que o seu pássaro causava no ar. Um planador, chamam-lhe (novamente, não gosto de desfalcar os entendidos com prosas pouco técnicas...).
Gosto mais de pássaro incapaz de bater asas. Porque naquela tarde ele era mais um do reino alado. Quase num estado hipnótico observei a maneira como aproveitava os ascendentes da falésia para fazer inveja aos restantes seres com penas que lhe coabitavam o espaço...eles sim, natos na arte de aproveitar os ventos, a sublime movimentação tridimensional.
Quão estranho é ver as gaivotas, donas daquele Guincho, a olharem de lado um animal que não sabia bater asas. E lá estava ele, estático a a ganhar altitude, ou a brincar como se fosse uma coisa que aprendera há pouco, feliz na conquista de um novo meio.
Suponho que elas já se teriam esquecido do primeiro dia...
posted by P.A., 5:54 da manhã | link | 1 comments |

o padrão

O rato que roeu a rolha da garrafa do rei da russia tinha um dilema.
Reparava que raramente se retraía em roçar o ridículo daquela palavra.
Ronronava sempre "amorrrrr!". Em rosnado de ternura saía-lhe o remanescente "amorrrrr!".
Roliças, rempimpas, rosadas, reservadas, refrescantes conquistas até...e ele sempre: "amorrrrr!".
rema e rema e rema no requinte desse "amorrrrrr"....

Requiem para este rato que um dia queria ser homem.
posted by P.A., 5:53 da manhã | link | 1 comments |