quinta-feira, abril 17, 2008

ponte suspensa

Assim que soltamos o solo e o bicho alado dá vazão às suas asas, fico embebido no espírito de desprezo por todas as leis que nos regem e embrenho-me na melancolia dos pássaros. Quem, senão eles, para nos mostrar o quanto somos pequenos e ridículos. À medida que o horizonte se torna curvo, conseguimos ver todos os padrões por nós criados, a fútil tentativa de moldarmos a terra aos nossos defeitos, a vã gloria de mudar. Como pássaro vejo a perfeição labiríntica de um rio e perdoo-nos por nunca conseguirmos ser simples...
Hoje a ponte desaparece numa estranha bruma vinda de sul. Como se surgisse de nada, como se para o nada fosse. Faz-me pensar, parto para longe todos os dias, e hoje quero permitir-me ficar longe de mim também. Leio uma frase que me empurra a fuga: "O queijo, o vinho e os amigos têm de ser velhos para serem bons." Cresce em mim a desconfiança de uma aceitação. Olho para dentro do meu mundo e encontro verdades, procuro mentiras, escolho partidos e tento afastar-me o suficiente para ser pássaro de mim. Enfim concordo. Enquanto que os prazeres de boca não têm discussão, a questão dos amigos surge titubeante, assim como que a precisar de ser mastigada. É um facto que o tempo serve para descobrirmos todas as cores daqueles que julgamos nossos, e aqui a minha possessividade abre a esfera do que sou para absorver tudo o que amo, será sempre assim. É um facto que o tempo faz a distinção, dá a oportunidade ao contacto que não nunca se perde, ao amor que não se desfaz nos diluvios da vida, porque os temos. Assim como uma peneira que não consegue deixar passar aqueles grãos de areia que por algum motivo ficaram juntos. E esta aceitação doi. Porque desde cedo aprendi a amar (vício que traz o melhor dos sabores), é cruel aprendermos a deliciarmo-nos com o fascínio da descoberta de outros mundos, e depois desaparecer tudo. Há uns anos gritava (nunca fui comedido com os meus dogmas) que detestava perder pessoas. Hoje em dia olho para a ponte e percebo. Ela está viva, mas a bruma cobre a margem tirando-lhe o sentido.
Fundem-se as cores do estuário com as do baixo tecto enevoado, e o fim torna-se um começo.
posted by P.A., 7:10 da tarde | link | 0 comments |

quarta-feira, abril 02, 2008

Kisses from GVA



Correram por montanhas, sulcaram vales e moldaram pedras com historias vindas de longe. Sidharta tinha razão.
O rio fala-nos com uma plenitude assustadora...
posted by P.A., 4:02 da manhã | link | 0 comments |