segunda-feira, fevereiro 27, 2006

O regresso do livro (começa a saga)

O desespero que cobre os pensamentos em época de tormentos existenciais torna-se demasiado confuso. Mil e uma direcções, mil e um ideiais, nenhum rumo, nenhum presente futurista.
Álvaro de Campos é, em si, a caótica forma de definir o indefinível, o lado obscuro da inquietação, a morte abrupta do azul esperaçoso. Louco em busca de uma verdade, do sentido, a vida não o satisfaz. A sua "mórbida" ajuda jamais será esquecida...não sendo nada, foi mais do que muitos ditos iluminados.
Beija a imortalidade odiada..."escravo cardíaco das estrelas"!!

"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (...)" in Tabacaria
posted by P.A., 2:35 da manhã | link | 3 comments |

PK 50 FLE (mas Kitada...)

Chego ao pé de ti e estás amuada, estás triste por eu não te dar a devida atenção. Tens de compreender que nem sempre posso fazer-te feliz, às vezes acomodo-me a outro tipo prazeres...Depois falo contigo um bocado, desculpo-me com o mau tempo que se faz sentir, sabes que não te quero magoar, apenas quero que te portes bem. Se olharmos para trás e virmos o pouco tempo que estamos juntos, tens de admitir que já passamos por muito. Lisboa já nos conhece, das subidas íngremes do castelo, as ruas apertadas no bairro, até mesmo de barco contemplando o Tejo...juntos. Até à praia te levei de Marilu a tiracolo! Lembras-te daquela vez que andamos com as tuas irmãs italianas, alemãs, espanholas...eram tantas e tão garbosas que te sentiste orgulhosamente parte da familia. Já passaste por muito, eu sei. Eu acredito que não seja fácil ser operada ao coração duas vezes, sem falar da vez que, nas mãos de outra pessoa, te recusaste a obedecer e acabaste de nariz partido... Mas isso também faz parte do teu encanto. És caprichosa. Susceptível até. Por isso te acarinho as curvas antes de te tentar fazer falar. Sim,porque tens mau acordar,todos os vizinhos se queixam. Mas depois de te predispores a colaborar um bocadinho, soas forte e decidida, como se nada te pudesse parar. Então aí, sento-me cima de ti e fazemo-nos á estrada, curva atrás de curva, percorrendo as rectas veementemente, zombando do transito e fundindo-nos na cidade que nos acolhe e te admira. Se existisse um elixir para aliviar o mau estar de alma, teriam de fazer um frasco gigantesco para te colocarem lá dentro, pois não houve uma, nem uma vez que não me animasses com os teus gestos certos, com a nossa comunhão de almas. Claro! Acredito que tens uma alma. Qualquer dia até te dou um nome.

Quem tem uma Vespa sabe do que falo...
posted by P.A., 1:54 da manhã | link | 1 comments |

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Saramagânhamos...devagarinho.

"Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara." - José Saramago in Ensaio sobre a Cegueira

Às vezes gostava de conseguir reparar mais nas coisas.
Às vezes até me iludo julgando que consigo.
Somos tantos e com tanta coisa para mostrar, que, quem domina a arte de aprender observando, cresce com a certeza de que a multiplicidade de verdades enriquecem a sua. Este processo de assimilação requer humildade e altruísmo perante o mundo, um auto-esforço de negação da identidade da sua esfera pessoal...o egocêntrismo tolda-nos a capacidade de surpresa.
Quantas vezes não subestimámos alguém? Quantas vezes não idolatrámos bluffs?
Por entre herois e vilões trilhamos as nossas marcas, cheias de imperfeccionismos e enganos crónicos, às vezes até clarividentes...reparando.
Muitas outras, não.

(interludio humorístico:
- Se eu tivesse um irmão chamava-lhe Herrare.
- Porquê?
- Porque Herrare...é O mano!!).
posted by P.A., 4:36 da tarde | link | 0 comments |

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Ka Nalu Nuí

O velho pontão está diferente. Descaracterizado. Uma estrada de cimento aplainou a caótica ordenação de rochas gigantescas, que grande gozo nos davam testar o equilíbrio (de salto em salto) com pranchas e pés-de-pato nas mãos, mochila ás costas e muitas, muitas vezes de cabeça cheia...
Era religioso. Sair das aulas, chegar a casa e comer qualquer coisa, ver o teletexto para saber o tamanho e a orientação da ondulação (não havendo net este era o nosso método de previsão, falível comó caraças!) e telefonar em euforia para outro viciado em adrenalina. Transportes publicos cheios, expectativas no auge para podermos ver se "havia mar". Estupidez...mar há sempre. Mas para nós não. Tinha de ser aquele, o especial, o perfeitinho (fosse grande ou pequeno, os pulmões e os tomates inconscientes daquela idade não nos deixavam vacilar), o clássico com direito a spray e tudo!! Depois vinha o ritual de escondermos as roupas e os pertences nas rochas e o ridículo aquecimento que só nos dava para rir mais um bocado antes de entrarmos no nosso mundo. Enfim a paz. A comunhão com os elementos, os silêncios de concentração para não ser surpreendido por um set mais recuado, a sobrevivência. Porque os sustos foram muitos e os erros pagavam-se caro, aprendemos a interiorizar a velha máxima de não brincar com ele. Respeitá-lo. Afinal, é o preço que se paga para poder viver tudo o que nos oferece... No fim, assistir ao pôr-do-Sol dentro de água, ver a grande cidade lá ao fundo e o cabo Espichel do outro lado eram recompensas suficientes para os corpos cansados e espancados pela espuma.
-So mais uma, so mais uma!Esta veio so p´ra mim!
Estas eram geralmente as ultimas palavras antes de irmos para o desconforto. Tirar aqueles fatos (velhinhos e gastos do uso) no meio das rochas (ou ás vezes de baixo dos prédios, quando chovia) era uma tarefa de loucos e demorava eternidades. Ainda passávamos pelos churros com chocolate e farturas antes de apanharmos mais uma camioneta com ar de extraterrestres (todos desgrenhados, atafulhados de material...) vindos do planeta NãoSintoOsPésMasNãoMeInteressaNadaPorqueApannheiUmGrandaTubo.
Depois era chegar a casa e muitas vezes ter de esconder as coisas nas escadas para evitar perguntas incómodas.
Hoje tenho o conforto de um carro quando vou até á praia e até me visto e dispo a ouvir música...mas tenho saudades daquele pontão e das suas rochas agrestes.


Ao Gil, que desistiu de procurá-la...
posted by P.A., 7:07 da tarde | link | 2 comments |

domingo, fevereiro 19, 2006

Voemos

Noite de sons, imagens perdidas num subconsciente temeroso com o passado. Os amigos reuniram-se para acarinhar um dos seus e o orgulho tomou a face de um percursionista feliz. Freneticamente concentrado, mas feliz.
Mais tarde, no meio de um campo repleto de silvas e lama, o clã dos ritmos cadenciados e das luzes psicadélicas reunia-se mais uma vez. Os efeitos da musica como guia espiritual para outras paisagens mentais surtia os seus efeitos, mas o riso continuava a parecer-me fútil, os gestos descoordenados com a letargia de quem está morto por dentro. E, no entanto, olhar em volta e ver um corpo só a mover-se em êxtase valia a pena. Felicidade instantânea.
posted by P.A., 5:19 da tarde | link | 0 comments |

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Insonias

"Nascemos de graça, e passamos a vida inteira a pagar por isso." - Agostinho da Silva

No (des)entendimento desta frase encontra-se muita gente perdida.
Perdidos entre o sentido de obrigação perante o ganhar o pão e a satisfação pessoal de deixar o nosso inconsciente dar azo aos processos de criação que nos tornam felizes. Seja ela (a luta) uma auto-recriação, seja um compromisso altruísta com a humanidade, a questão fundamental prende-se com a valorização da nossa auto-estima. Completos, podemos amar.
posted by P.A., 5:11 da manhã | link | 2 comments |

O aquário

Numa ruazinha na baixa de Setubal há uma pequena loja de barquinhos em miniatura, quadrinhos com nós marítimos, sinos de veleiro, e outro tipo de artefactos para quem gosta de velejar ao sabor da imaginação. Tudo milimetricamente arrumado, impecavelmente organizado, existe um código de orgulho marinheiro em tudo o que está exposto, o mar sentir-se-ia inchado de vaidade se soubesse o quanto os seus adoradores lhe dedicam os sonhos.
No fundo da loja, encontrava-se um aquário. Enorme, não vistoso, mas imponente pela dimensão. Lá dentro voavam peixes coloridos, acho que demasiado perfeitos e demasiado coloridos e foi isso que nos chamou a atenção. Começou com um comentário desbocado (há sempre um comentário que nos parece descabido depois de quebrarmos o silêncio das situações incómodas) do género:
- Que aquario tão limpinho, como é que será que limpam uma coisa tão grande? Deve dar muito trabalho...
Do fundo da loja ouviu-se uma voz seca e entediada :
- Não meu senhor. Ele limpa-se a ele próprio.
A partir daí a conversa fluiu pelos caminhos percorridos do interesse dos leigos com perguntas mais ou menos pertinentes e a vontade dele de explicar o complexo ecosistema que ali subsistia. Era um deus a explicar como criar o mundo.
Coisas fantásticas como a importância da quantidade de corais e o seu papel fundamental na limpeza da água, uma estrela tipo fungo que servia de barómetro para analisar a qualidade da mesma, os fluxos de corrente necessários para recriar o ambiente de mares tropicais, até mesmo o modo como eram colocados os especimens novos no aquário tinha influência na sua adaptação (com quarentenas e tudo!!).
No fim da conversa era um homem feliz que vivia no seu mundo de pequenos peixes paradisíacos, de veleiros em ponto pequeno prontos para enfrentar tempestades herculeanamente pequenas, tudo embebido numa enorme paixão pelo mar. O mar tem esse efeito nas pessoas.
posted by P.A., 12:33 da manhã | link | 1 comments |

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Bipolaridades

Foi há um ano que o meu conceito de realidade se perdeu.
Percorri a espiral da manía e exacerbei todos os meus medos como se lhes pudesse tocar. Ainda é cedo para um olhar distante e frio, ainda não consigo achar respostas para as perguntas incómodas...
No meu quarto há uma frase escrita por um louco que me persegue sempre que olho para ela : "Regenerar a existência combatendo os vícios da Pedra Cinzenta (ou) EquilibRita".
Hoje tenho a certeza de que sem ti não teria conseguido...teria ficado lá, do outro lado. Do outro lado.
posted by P.A., 12:11 da manhã | link | 1 comments |

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Nostalgia do acne (Praia das Maçãs Mix)

Música de adolescência.
Campos de férias, verões intermináveis, fogueiras com olhares cumplices.
Perdoem-me os crescidos mas há coisas que ninguém esquece...

"São dias que passam
são horas que vão
são lábios que cantam
são mãos que se dão
E deixam saudades
de não ser assim
Toda a vida, a vida de agora

É tempo, é tempo
de aprender a ser
Subindo por dentro
e sempre a crescer
Pisando caminhos
esquecendo talvez
o deserto de ontem sozinho

Tudo quanto penso
tudo quanto sou
é grande, é imenso
é tudo quanto dou
e ao dá-lo recebo e fico maior
do que sou quando me nego

Criança era outro
cresci e esqueci
A aposta da vida
ganhei e perdi
O risco me trouxe
até ao que sou
Nunca basta a vida que foi..."
posted by P.A., 1:51 da manhã | link | 0 comments |

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Seremos um só...

Estou farto. Cansado. Não há um fio-de-prumo, não há verdades absolutas, não há dizeres nem saberes quando se fala de relações. Cada um delibera de acordo com a sua experiência, as marcas dos amores e desamores são como imagens reflectidas num espelho partido...não se completam num entendimento racional do que é a partilha da vida com outra pessoa.
Que se fale de probabilidades, os líricos das almas gémeas que iniciem as suas quimeras sem retorno, o amor como garantia de uma existência feliz tornou-se utópico. Tornou-se político corrupto ou mafioso arrependido...ninguém acredita nele.
Falamos de apostas, decisões conjuntas, tolerância e amizade, mas no fundo falamos de expectativas sobre o não sofrimento, primeiro porque sofrer doi muito e segundo porque é mais fácil jogarmos pelo seguro e não cedermos ás irracionalidades da paixão ("the bitter and the sweet"). Vivemos numa época em que o poder de escolha é muito maior, a busca de algo melhor como ideal de vida soa-nos bem e as expectativas aumentaram exponencialmente.
Insatisfeitos. Desconfortáveis. Gostamos de ter o orgulho de poder dizer que seguimos em frente e melhorámos os nossos horizontes emocionais, mas acho que na verdade temos medo de dizer que desistimos porque era demasiado difícil. Então adiamos o relógio biológico até ser insuportável e agarramo-nos ao que conseguimos de acordo com a varinha mágica qua a vida nos moldou. E aí sim, dizemos: Ès tu. Quero passar o resto da minha vida contigo e gerar vida até que a nossa vida acabe e continue a vida que gerámos... Alguns ainda olham para trás e tentam ver antes da cortina fechar algum dos seu grandes amores, mas já não há tempo para isso. O espectáculo vai começar e brevemente seremos apenas mais dois que querem ser um só.
O milagre acontece quando isto efectivamente resulta, a passagem no mar morto abre-se novamente e a caminhada para a felicidade começa com um fim feliz.
A professia do amor eterno cumpre-se.
Tenho tantas perguntas perguntas a fazer a um desses felizardos...Ja alguém viu um?
posted by P.A., 1:08 da manhã | link | 1 comments |

sábado, fevereiro 11, 2006

Moonlight Surfers

Noite de lua cheia...está na hora de agarrar nas pranchas, entrar na água fria e escura e seguir o rasto prateado reflectido na onda. Já foi assim tão fácil, já foi assim tão azul. Para aqueles que o viveram ficarão os gritos de loucura a ecoar na memória...
Talvez um dia nos encontremos sem aviso prévio numa praia deserta, os mesmos vultos, os mesmos sorrisos de cumplicidade e sobretudo a mesma vontade de sentir o sal na alma.
Gosto de acreditar nisso.
posted by P.A., 7:46 da tarde | link | 1 comments |

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

A camisa

Neste mundinho de gente grande a aparência tem um papel fundamental na nossa aceitação.
O.K., somos animais que observam padrões comportamentais e a nossa indumentária espelha um determinado enquadramento naquilo a que chamamos de sociedade. Que o conforto pessoal e até a própria noção de estética de cada um seja relegada para um plano secundário, eu até percebo...mas porquê a insistente co-relação entre a responsabilidade, seriedade e as estupidas camisas? Elas estavam tão bem no fundo do armário a cumprir a sua função de homenzinho pedante a rosnar ás calças largas, ás sweats, t- shirts e aos ténis...que verdade seja dita,não se importavam nada de ter areia nos bolsos, o desgaste do astro Sol, o esfolado dos toques na bola com os amigos para passar o tempo ou para dar toques no tempo em que ainda jogávamos á bola...
Tem uma razão de ser. A escolha. Naquela máquina de fotografias com caracteres chinêses e instruções faladas em espanhol, era um jovem adulto que queria marcar uma posição. Talvez um Calvinisse, uma careta no ultimo flash lhe devolvesse o ar de puto...mas estava lá a estupida camisa.
posted by P.A., 4:21 da tarde | link | 1 comments |

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

"We are accidents waiting to happen"

Gostamos de nos imaginar senhores das nossas decisões. Fazermos as nossas escolhas, criar os nossos caminhos, encontrarmos o nosso espaço no mundo decididos e firmes como quem sabe algo mais sabe sobre o porvir. Á medida que crescemos como pessoas vamos aprendendo que as coisas incontroláveis podem ser previsiveis...mas serão de facto?
No nosso processo de socialização as entidades responsáveis pela nossa educação devem encaminhar-nos para valores tão fundamentais como a responsabilidade, o esforço compensatório, o garantir do sucesso pessoal como alternativa á ociosidade intelectual. E o factor acaso? E as variáveis da Sorte e do Azar não entram na equação?
Há dias, debaixo de um viaduto escuro e sujo vi um sem-abrigo a passar a noite. Pouco depois foi proferido o comentário de que muitas das pessoas que estão nesse estilo de vida fazem-no por escolha, por terem desisitido da sociedade como lhes é apresentada. Falou-se de azar ou má sorte que moldaram os caminhos da sua existência, mas não questionámos a sua importância ou relevância nas nossas vidas. Os antigos recorriam frequentemente a anciões, adivinhos ou outra espécie de feiticeiros que dominassem os designios do tempo e lhes dessem respostas sobre o futuro, era mesmo uma práctica corrente. Hoje temos a Maya e outros vígaros e charlatões que vêm ciência num baralho de cartas com figurinhas ridículas...
Mas continuamos a acreditar que há sempre a possibilidade de sermos brindados com o Euromilhões (é a probabilidade de acertar num segundo em 765 anos!) ou continuamos a temer o instante em que todas as forças obscuras do cosmos se uniram e fizeram aquele carro vir em contramão contra nós, sem hipótese de defesa. Em qualquer dos casos justificamos o evento com os bafos da sorte ou do infortunio, e sentimo-nos confortavelmente desconfortáveis por saber que simplesmente há coisas que não controlamos.
Que a nossa insignificância nos faça dar valor ao momento e não a utopias de felicidade eterna...mas isso são lençois para outra cama.
posted by P.A., 5:47 da tarde | link | 1 comments |

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Algumas perguntas a um "homem bom" - Brecht

Bom, mas para quê?
Sim, não és venal, mas o raio
Que sobre a casa cai também
Não é venal.
Nunca renegas o que disseste.
Mas que disseste?
És de boa fé, dás a tua opinião.
Que opinião?

Tens coragem.
Contra quem?
És cheio de sabedoria.
Para quem?
Não olhas aos teus interesses.
Aos de quem olhas?
És um bom amigo.
Sê-lo-ás do bom povo?

Escuta, pois: nós sabemos
Que és nosso inimigo. Por isso vamos
Encostar-te ao paredão. Mas em consideração
Dos teus méritos e das tuas boas qualidades
Escolhemos um bom paredão e vamos fuzilar-te com
Boas balas atiradas por bons fuzis e enterrar-te com
Uma boa pá debaixo da terra boa.
posted by P.A., 12:48 da manhã | link | 0 comments |

Cidade dos Homens

O cenário é a antagónica cidade do Rio de Janeiro, a cidade do asfalto e cidade da terra, do esgoto e da água suja exposta morro abaixo, do playboy e do malandro.
Dois rapazes, Jorge Luís e Úolace vivem histórias paralelas em mundos diferentes, o primeiro pertence a uma asfixiada classe média com esperanças de alcançar a absurda riqueza que pornograficamente abunda , o outro luta para escapar á pobreza extrema de ser um menino de rua. Ambos partilham o desespero de estarem mal-colocados numa sociedade que lhes diz serem aspirantes a qualquer coisa melhor. Ambos são filhos de mães que lutam visceralmente para lhes melhorarem as perspectivas de futuro, as hipóteses de fuga são mínimas e elas sabem-no...é uma bola de ténis caida do céu quando apenas tinhamos duas para fazer malabarismo. Os próprios nomes são sintomas de uma eterna fé que o destino lhes seja favorável, Jorge Luís pois é nome de gente importante, e Uólace porque é nome de estrela de cinema americano (chamem-no de Laranjinha se preferirem). Esta eterna fé no destino não nos é estranha, somos bichos superesticiosos e gostamos piscar o olho aos deuses. Todos os dias lutam com os seus fantasmas, o malandro e o playboy, o marginal que vive no antro da sociedade sedento de poder e respeito dos seus pares (em media duram 25 anos), e o branquela rico, futil e estupido que vive rodeado de grades de ferro e seguranças para se refugiar no seu arrogante castelo de luxuria. É no fundo uma estranha simbiose...o malandro vende escapes químicos ao aborrecido menino da sociedade e justifica a sua vida nas armas com que prolonga a chegada da hora da "bala perdida".
É de noite. Jorge Luís está á janela no seu apartamento nos limites do morro e Úolace percorre a rua matando o tempo sem pressas para voltar ao barraco de madeira vazio (a mãe só chega no dia seguinte). Olham-se e interrogam os caminhos por onde a vida os levará, com poucas certezas num dia-a-dia que os questiona...têm medo. Têm medo e sentem-se sós. E aqueles ténis eram tão "maneiros" na montra...
posted by P.A., 12:15 da manhã | link | 0 comments |

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

O beijo

Insuportável desejo pelo teu toque. Aveludada pele que me seduz com o seu charme, todos os movimentos, toda uma sinfonia de mensagens criam uma química inconfundível.
Na barreira física que nos é imposta quedei-me perto do abismo e sonhei em voar, mais uma vez, por ti.
Nada é mais bonito que o amor, nada é tão perfeito. Que eu seja um lírico e ridículo trovador, que me julguem e condenem ao um exílio longo, que me tragam provas que morreu a esperança...
Eu queria. Queria muito poder ter-te dado um beijo.
posted by P.A., 9:35 da tarde | link | 0 comments |

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Titulos,rotulos e outras definições...

Tinha aquela idade das idades dificeis, ja tinha tido contacto directo com as crueis provas que a adolescencia nos reserva, mas nada faria esperar que aquele papel pudesse surgir com tal frieza...
Ele chamava-se Carlos, tocava guitarra, tambem leu o Trainspoting, o Admirável Mundo Novo e vibrou com o Pulp Fiction tanto como eu...tinhamos gostos em comum e éramos amigos como todos os amigos são nessa fase estupida de afirmações e verdades irredutíveis.
Foi numa aula. Não me lembro exactamente do que fiz mas não devo ter pensado muito nisso porque não ficou registado. Provavelmente terei ultrapassado alguma especie de fronteira imposta por ele, algum obscuro caminho no seu labirinto mental que o impeliu a mostrar-me o quão clarividente estava.
Passou-me um papel escrito com uma letra convicta...como se a verdade saí-se numa só penada: "Às vezes és parvo. Estás a sê-lo agora e acho que o vais ser para a vida toda. Aprende a viver com isso e frustra-te."
Brutal. Lindo. Que presença de espírito, que audácia, que sal intenso naquelas palavras...foi avassalador o efeito.
Hoje agradeço-lhe o elogio. Quem conhece a historia do valente soldado Chveik percebe que há vantagens em sê-lo...ou nesse caso fingi-lo (permitiu-lhe escapar ás agruras da guerra assumindo uma atitude de perfeito ignorante). Ou Gil Vicente no Auto das Barcas quando diz "felizes dos tolos pois deles é o reino dos Céus"...
A atitude primitva de superioridade de quem se julga noutro plano é inata nos seres que nos tornámos, vivemos numa vil montra de vaidades em que toda a gente vai tão nua quanto o rei. Mas é bom sabermos o nosso lugar no mundo e guardarmos para os Deuses os designios do nosso destino...e é tão bom surpreender!
posted by P.A., 9:56 da tarde | link | 1 comments |