sexta-feira, abril 28, 2006

O principio da decadência (ou Estamos a ficar velhos para isto...)

- O quê? TU VAIS ASSIM??
- Ya...tou com uma alergia manhosa na pele, não posso vestir o fato...
- Fdx! Mas tá frio pá! E isso nem sequer são calções de banho, és louco.

Pensando no conforto do meu 4/3 saio do carro e dou uma corrida para ver o mar. Esta desordenado e estranho. Mas há pessoal a surfar.
Passado pouco tempo ele aparece e rapidamente arranjamos uma desculpa para não entrarmos.

- Prá semana tou de férias, vimos todos os dias puto!
- Bora! E logo de manhã cedinho, por causa do vento.

(acende-se um cigarro e procuramos um sitio onde comer, porque ver ondas...dá fome.)
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terça-feira, abril 25, 2006

Emigrantes da Manus

Fazem parte das estórias. Foram vividas por eles. E nas que não presenciam são sempre referenciados com um se-ele-aqui-estivesse-faria-isto-ou-diria-aquilo. E partiram. Estão longe num país onde o sol se intimida perante o politicamente correcto dos modos e das maneiras. Estão longe das preocupações de sobrevivência quotidiana que muitos de nós gostariamos de chamar de materialismos. E partiram. Gosto de lhes perscrutar o olhar quando afirmam não mais voltar, mesmo depois de dizerem que se aqui obtivessem o que lhes é oferecido lá fora, seriam apenas mais uns satisfeitos resingões neste canto de mundo. Quando chegam, não existe o desconforto da ausência, não há qualquer tipo de pejo nas demonstrações de afecto e acho que é assim que se passa nas grandes familias...como se nunca tivessem partido. Os dias cumprem-se na certeza de que os momentos são efémeros, mas a cumplicidade flui transparente e cristalina. Este tipo de reencontros dão-me a certeza de que distância não é mais do que o caminho mais curto para a descoberta das coisas verdadeiramente importantes. Como uma boa gargalhada partilhada em noite prazeirosa numa praceta igual a tantas outras...e os musculos da face não têm tempo de descontrair porque vem aí outra que começa sempre - "e lembras-te quando..."
Lembro-me, sim. E criaremos outras, sempre que nos virmos. Serão isto raízes?
posted by P.A., 11:36 da tarde | link | 0 comments |

Caça

O capim envolve-me o corpo, estou completamente camuflado e em uníssono visual com a paisagem que rodeia e dá forma a este espaço. É um descampado aberto, livre de relevos e obstáculos que me toldem a mira e consigo ter uma visão de tudo o que possa ser um alvo. Um bom posicionamento é fundamental, as surpresas não são de todo permitidas e eu sou a armadilha, a emboscada preparada ao milímetro. Julguei as distâncias, as hipóteses de fuga, as trajectórias possíveis dos inocentes. Quem aponta uma arma, carrega a mente de falsos discursos de vitória, joga a sua sanidade numa luta entre a sobrevivência do mais forte e a justificação de ancestrais comportamentos. A premeditação. O respeito pela presa. Sim, já foi escolhida criteriosamente, possui todas as nuances que enchem um imaginário de glória e regozijo na conquista do que sou. Ou que gostaria de ser.

Hirto, sinto a respiração mover-me o peito, enquanto junto ao chão aguardo o mais pequeno vestígio da sua presença. Tenho o olhar focado no óculo que me coloca o mundo à distância quase pálpavel daquela cruz preta...cruz certeira e infalível. O meu corpo é uma pedra retesada, sensível à passagem da nuvem, à mudança da temperatura, à mutabilidade das cores. Tenho de confiar nos elementos que me apoiam, o trabalho envolvido no seu estudo não poderá ser infrutífero.
Eis que apareces. És minha. Pertences-me e acho que o sabes, vejo-o no teu olhar. É altura de concretizar o plano, ganhar a frieza pragmática de percorrer o dedo pelo gatilho...tão ansiada imagem.
De repente, sou traido pelo vento, pela nuvem, pelo calor que me evapora a razão, pela visão turva e desfocada. Ou pela incapacidade de consumar o acto. Sei que ali permaneceste, desiludida pela sensação de loucura daquele que te ia capturar. A mística e o orgulho com que criei este ritual perderam-se no âmago de um vazio.
Quem não estava preparado para morrer era eu.


P.S. - Talvez um dia me transforme num desses cabeças de falo que encharcados de desinibidores procuram caçadas fáceis em sitios cheios de luzes e sons altos. Acho difícil.
posted by P.A., 6:47 da tarde | link | 0 comments |

25 de Abril....

Acordávamos ao som de Zeca Afonso, a televisão ligada com imagens de gente fardada, tanques e armas com flores no cano. Uma aura de nostalgia feliz, os olhos brilhantes ao evocarem estórias de uma luta por uma coisa chamada Liberdade.

Sou um filho da geração de Abril,
sou um eterno amargurado e invejoso da sua vivência,
sou o produto de um cravo vermelho que floresceu na vontade de um povo,
sou um arrepio na alma ao ouvir palavras de ordem que marcharam numa larga avenida,
sou um punho cerrado no ar,
sou uma fotografia de sorrisos enfim soltos,
sou uma memória que não morre.

....Sempre!
posted by P.A., 3:25 da tarde | link | 2 comments |

terça-feira, abril 18, 2006

"Construção" - Chico Buarque

"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, Deus lhe pague"
posted by P.A., 8:10 da tarde | link | 1 comments |

domingo, abril 16, 2006

Jesus Shaves

Pertenço à geração do entretenimento (genialmente apelidada de rasca), seca nos ideais e nas crenças. Tal facto não me preocupa, a velha questão de ter de corresponder às expectativas dos outros é um mal crónico há muito estigmatizado nas sociedades de hoje. Preocupa-me sim o rumo do negócio mais bem montado da história (partindo do eterno medo do desconhecido personificou-se a fé e escreveu-se a estória mais bem sucedida dos ultimos dois mil anos). Esta semana surgiram vozes no seio da Igreja Católica que questionam a desproporcionalidade entre a dedicação à leitura das sagradas escrituras e o tempo desperdiçado vendo televisão, navegando na internet e lendo jornais. Falam de "excesso" (gosto da inocuidade das aspas) e de novos pecados. É simples. Quanto mais ignorantes melhor. Dêem-nos umas máscaras de ovelhinhas e deixem-nos pastar à vontade se faz favor, que esta vida são dois dias e o desperdício paga-se caro. E eu que embebido deste espírito de páscoa, até fiquei com vontade de ler o livro mais lido em todo o mundo, deliciar-me com a profundidade das personagens, com o drama e humanidade do enredo. Com todo o respeito pelos que crêem, gostava de perceber as simbologias e identificar os rituais. O Mel Gibson exagerou no sangue...


Deixo a imagem de um cristo mais asseadinho, estilo metrosexual.
Porque isto da modernidade é uma coisa muito antiga.
posted by P.A., 11:21 da tarde | link | 0 comments |

Em tempo de sol fotografo a nuvem

Quero a surpresa de novo. A vontade de respirar ar puro e de conseguir atingir toda a gama de cheiros que o vento me traz. Tavez se trate de uma metamorfose eremita que se apodera de mim, a necrose dos diálogos infrutíferos já causou demasiados e (espero que não) irreparáveis danos. Não procuro mudar, não procuro um aumento axial de existência, procuro sim um monólogo. Um solilóquio, se preferirem (palavra bonita, obrigado Khamaileon). Desde sempre viciado na partilha, dou por mim desencontrado numa marginalidade desiludida com as vozes que me rodeiam. Não há culpas, recrimino única e simplesmente a minha irascível intolerância às imposições. Agora quero o bocejo indesejável, a expressão de espanto, o sorriso sarcástico, a piada que surge e é engolida num silêncio educado.
Não é distância, é insolaridade.
posted by P.A., 10:52 da tarde | link | 2 comments |

Balsero

É este o nome que dão aqueles que fogem de Cuba em pequenas embarcações (muitas delas artesanais) em busca de um futuro melhor. Espera-lhes um oceano cheio de perigos, águas pejadas de tubarões, espera-lhes a incerteza de vislumbrar uma Florida vistosa, uma Miami que de tão perto cheira a sonho americano. E pouco mais têm por garantido. Uma fuga. Mas fugir de uma educação, saúde e habitação gratuitas não parece muito lógico. O derradeiro país resistente numa América do Sul que tentou tornar-se socialista sofre um embargo económico por parte dos Estados Unidos há várias décadas. Quanto pode isto influenciar uma sociedade? Percorrendo as ruas de Havana não se encontram vestigios de publicidade imperialista, os únicos outdoors apelam às glorias da revolução e ao orgulho patriótico com frases do tipo: - "Hasta la vitória siempre!", - "Señores imperialistas, nós no tiemos medo!", ou esta (brilhante) com Fidel de perfil: - "Vamos bien!".
Existe pobreza e indigência, existem prisões políticas e condicionalismos ideológicos, não existe democracia...e a musica quente continua a voar na rua do café onde Hemingway gozava com a retórica em copos de rum.
Nunca nos poderemos apropriar do espírito de um balsero, das suas lágrimas na despedida, do seu suor salgado e da sua pele gretada pelo sol...a História vivida será sempre mais crua que a contada, ou neste caso, por mim romanceada em personagens de nome curto, com barba mal-semeada e a estrela vermelha na boina verde.


Perdido no meio da sierra maestra, olhei para os meus camaradas, jurei acabar com este bordel americano e devolver o orgulho ao meu povo. Não me apercebi de todas as nuances que tingem as cores da palavra Revolução. Julguei-a por um poema.
posted by P.A., 8:46 da tarde | link | 0 comments |

sexta-feira, abril 14, 2006

Ardeu...

Diz-se que quando se fecha uma porta abre-se uma janela.
Mas não nos explicam se a vista que a janela desvela é pertencente ao mundo a que a porta dá entrada. Veremos. Pouco há a perder.
posted by P.A., 6:11 da tarde | link | 1 comments |

terça-feira, abril 11, 2006

Mata dos Medos (Arriba Fóssil)

As paisagens nunca nos surgem como novas. Perante um cenário visual diferente, imediatamente o nosso cérebro faz comparações com outras imagens pré-assimiladas. Isto é um triste facto, porque resigna-nos à desespereante incapacidade de surpresa diante de outras realidades.
Então adaptamo-nos, interiorizamos as diferenças, estabelecemos paradoxos. Eis senão quando, sem nos apercebermos, já lhe acrescentamos um cardápio de emoções e sensações, já a rotulámos como nossa.
Voltarei aqui, dizemos.
Regressos felizes em espírito, memórias que soldam as placas do eu.
Na verdade, poucos locais existem aos quais eu não deseje regressar, mas de viajante tenho pouco, os meus horizontes perto se quedam. Claustrofóbico nesta condição, gostaria de ser um homem do mundo, uma árvore alta e de copa larga, com raizes fortes e indestrutíveis.
Que o tempo o diga. Sei onde quero regressar, só não sei quando.
posted by P.A., 5:31 da tarde | link | 0 comments |

Frio

Naquela humidade incómoda que brilhava na noite
No soalho de madeira que de côr quente enganava
No metal do corrimão
Na água que feria os dedos

Na respiração
Nas vozes trémulas
Nos lençois apertados em que nos encolhíamos como fetos
Na luz branca que matava os ultimos olhares do dia

Nesse frio acordado esqueci-me de existir
Sufoquei e tossi esperanças
Fumei mais um cigarro dentro de um corpo que pedia paz
E eu só lhei dei frio...



Breve nostalgia da alma gelada
Com estórias de ninar e anões e dragões e castelos nas nuvens
Naqueles silêncios antes do estremecer do teu corpo
Quente era a imagem de te ver dormir
posted by P.A., 3:07 da manhã | link | 1 comments |

"O Tigre e a Neve"


Cheio. É como me sinto. Não de uma forma gorda, mas sim de uma paixão renovada em torno da maior emoção delas todas. Como um filme simples e naíff nos faz crer que na inocência dos actos e dos gestos se pode recriar a vontade de amar, de estar vivo, de ser por ser.
Soltei gargalhadas nos pormenores geniais, emocionei-me na leveza das palavras...acompanhado de uma principessa deixei-me levar pelas imagens ternas e estapafúrdias daquela personagem.
Sem malícias e destemperos, vogando na liberdade de acreditar que o limbo entre a realidade e o lirismo é a receita da felicidade. Incorrigíveis poetas...
posted by P.A., 1:31 da manhã | link | 0 comments |

sábado, abril 08, 2006

Eles AINDA têm um Rei...

No vidro do carro fotografo com o olhar a paisagem que corre lá fora. País de contrastes este. De uma urbe descontrolada e regiões pulvilhadas de casas cedo chegamos às vastas planícies alentejanas, onde o sobreiro toma o seu lugar e o verde pulvilhado de amarelos, violetas e brancos formam uma aura de rebeldia floral, como se a ordem das coisas só tivesse que responder perante o belo. Rapidamente nos encontramos em territorio estrangeiro. Quase sem dar por isso. Os nomes mudam, as cores mudam, a arquitectura das cidades deixa de obedecer às regras lusas. Venha a língua matraqueada, rápida e incisiva, a atmosfera de um quotidiano diferente, em que existem duas horas a meio do dia dedicadas ao descanço, à bendita siesta. Somos assim tão diferentes? Orgulhosos das nossas conquistas, amantes da nossa pátria, da nossa identidade...mas somos mesmo assim tão diferentes? Ali observo os mesmos hábitos do bom comer, da existência prazeirosa, da vida quente do Sul e do sol. Os mesmos carros parados em segunda fila, os mesmos cigarros fumados em esplanadas acompanhados de cerveja fresca, as mesmas mulheres bonitas certas dos olhares que as miram... Talvez lá em cima lutem pela notoriedade Cervantes e Camões, Pessoa e Lorca, Dalí e Amadeu de Souza Cardoso, mas que interessa isso para alma de dois povos que de tão próximos, tão diferente é o seu modo de encarar a vida? Temos mais mar, mais desespero e saudade...mais nostalgia no sangue. A fiesta move-lhes o espírito, o positivismo é bem mais evidenciado no seu dia-a-dia. Podería conjecturar sobre políticas diferentes de colonialismo, na altura em que o mundo foi dividido ao meio por nós, mas creio que é mais do que isso. É na pequenez do nosso espaço, nas esperanças e no terreno físico, na imensidão da nossa melancolia, no nosso horizonte salgado que fazemos a diferença. Somos grandes por não o sermos. E susceptíveis...pouco existe que mais nos irrite do que falarmos a nossa língua e ouvirmos um ignorante - "no te entiendo!". Dá vontade de ripostar com sotaque - "Olha, então vai à mierda...Balle?"
posted by P.A., 2:03 da tarde | link | 0 comments |

terça-feira, abril 04, 2006

A bailarina


Foi a primeira bailarina de dança clássica em Portugal, na Gulbenkian. É pequena, atrevida e vai diminuindo o tom de voz à medida que vai falando, como se quizesse forçar a atenção do ouvinte enquanto vai largando pérolas faladas. Deve ter sido uma mulher lindíssima enquanto esteve no auge da sua existência porque o tempo não lhe apagou os traços finos e os modos suaves. Teve uma vida fascinante, repleta de amores e aventuras mil.
Propus-lhe um desafio. Contar a sua história. Passar para o papel um registo memorável de quem ama estar cá.

"Digo-te uma coisa. O que tiver de acontecer, acontece. Não vale a pena forçar coisas que nunca o são."
posted by P.A., 2:06 da manhã | link | 2 comments |

segunda-feira, abril 03, 2006

"Eu te aceito"

Os ciganos é que sabem como fazer as coisas. Os casamentos deles duram três dias. Três dias! Até parece um exagero para nós, vulgares obreiros da sociedade sem tempo, gastar tanto a festejar. Mas é de uma celebração que se trata. O comunicar perante o mundo um compromisso feito com outra pessoa. Venha o romantismo e chamem-lhes caras-metades, venham os novos tempos e chamem-lhes parceiros...não interessa o prisma com que as nossas razões e emoções o encarem, o casamento é algo distinto e indelével para todos.

Os diálogos desvelados em proximidade familiar.
Com o olhar confortável de quem nos conhece desde sempre, acarinham-se os anciãos nos gestos e nas palavras.
As crianças extasiadas com palhaços e balões coloridos, excitadas com tanta confusão e envergonhadas com tantos beijinhos e figuras ridículas.
As danças extrovertidas por bebidas espirituosas, a necessidade de extravasar alegria como se a ultima coisa que verdadeiramente importasse fosse aquela musica alta e as gargalhadas cúmplices dos outros doidos.
Os vestidos garridos, as gravatas com os nós windsor perfeitamente alinhados, os óculos de sol estratégicamente inócuos na posição de observador, os cabelos arranjados, as feições de alegria de um dia de festa.

Um dia de festa.

Dentro de mim sinto uma urgente necessidade de sorrir, de sorver o contacto humano, entrar numa espécie de ritual de confraternização comunitária (tenho a certeza que se pertencesse a uma tribo estaria de lança na mão num círculo, entoando canticos de união e saltando frenéticamente). Mas é mais do que isso. É familia. São aqueles que de tão pouco tempo partilhado, pequeno é o esforço para que o à vontade surja, o sangue e o nome enraizado faz-nos ser unos. E tolerantes.

Fui um dos padrinhos desta cerimónia. Sou responsável por zelar pela felicidade da minha irmã, assim como um casal de adoráveis seres que completavam 47 anos de casados nesse dia (um alentejano e uma bragantina, que são O exemplo de respeito mútuo, admiração e companheirismo... uma ode viva ao amor, portanto).
Assinámos o papel da burocracia relacional, beijámos a linda noiva e abraçámos o felizardo que me a roubou, lançamos pétalas de rosa e arroz ao ar e dedicámo-nos aos prazeres da boa comida e do bom vinho...mas cheios de pena de não sermos ciganos.
posted by P.A., 10:25 da tarde | link | 1 comments |