Percorro as linhas inexistentes deste papel. Métrico, metódico, crio as imagens com rigor geométrico, as horizontalidades sou eu que faço. Este papel voltou a casa. Sente-se de novo completo com o cheiro do coqueiro, da terra húmida, a fruta de aspecto agreste...as folhas ganham vida com um calor demasiado intimo.
Pergunto-me o óbvio, se não virá este papel da Mãe de todas as florestas, julgo que sim, faz todo o sentido.
Foi naquela manhã calma, dizem eles, os bichos, que as máquinas violaram a selva para a trazer. Dizem eles, os bichos, que a selva chorou a morte de mais uma filha. Indiferente a todo um drama, o gringo lá da Europa comprou as suas vísceras numa lojinha no Rio.
Hoje...o bloquinho sem linhas está de novo em casa.
Catussaba, Salvador da Baía, terra de Pai Santo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivete "tira-o-pé-do-chão-mesmo-que-esteja-partido-e-com-gesso" Sangalo e outros milagrosos seres, mostra-me a força do Nordeste. Pura como o branco das dunas arenosas. Acompanha-me este vento norte, traz-me de casa a saudade de tantas partilhas, vem quente, mortiço, vem soprar-me um encontro com os meus suspiros, traz-me o sorriso de uma surpresa. Casa pode ser aqui também.
Revejo-me na história triste do meu bloco, no Inverno da sua existência. Venho aqui dar-lhe função e significado, uma esperança nascida nas palavras, incongruente como este Inverno de chuva quente feito Baía.

- "Benvindo ao Longo-Curso, as caipirinhas pagas tu!!"



p.s. do p.a. - Deitado na rede, espero ver um Mico (macaquito que prolifera por aqui)...tenho uma banana na mão e alguns amendoins roubados no bar. Há coisas que nunca mudam.