quarta-feira, maio 31, 2006

Papua

Estou comprometido. Fui seduzido e atirei-me de cabeça, sem pensar em consequências ou juizos de valor. Agora preparo-me para entregar a custódia da Marilu, que, na nostalgia da despedida sei que será sempre a primeira. Mas estou pronto para amar de novo. Ser cúmplice de mais momentos azuis, novas juras de fidelidade e muitos muitos sorrisos.
É tempo de começar a projectar as suas formas, e deixar os mágicos criarem tudo aquilo que quero que ela seja.


VER a origem do sonho... (um dia estarás aqui, minha querida)
posted by P.A., 9:12 da tarde | link | 1 comments |

A aerogare, a placa e os simpáticos senhores de fatinho

"Bonjour (Bonsoir) mesdames e messieurs. Le vol ______ à destination de _______ est prêt à embarquer sur la porte numéro ___. Nous invitons les passagers voyagent avec des enfants et aux passagers qui necessitent d´assistance d´embarquer prioritairement.
Nous demandons aux passagers de présenter les cartes d´identité ainsi que les cartes d´accés à bord.
Tap Air Portugal vous souhaite à tous un bon voyage."


E assim começa a rush hour de uma porta de embarque. Pessoas nervosas por andar de avião, cansadas de esperar, furiosas por achar que têm o direito de o estar ou tão relaxadas que nunca comparecem a tempo. Tempo. Atrasos que custam fortunas, procedimentos que de tão rigorosos podem pôr em causa muitas vidas se não cumpridos, e os eternos "jeitinhos" que toda a gente espera que façamos. E se fosse só isto... As crianças, os VIP´s, as irregularidades e as bagagens que teimam em ser sempre em demasia, os desembarques dos voos em trânsito, as formalidades, e os colegas que certamente nos comerão vivos.
É um mundo. Quem já viu o Tom Hanks a tentar regressar a casa e a reformular a sua vida naquele espaço percebe o que digo. É inimaginável a quantidade de sinergias envolvidas para fazer circular pessoas à volta do planeta. E tudo com uma expressão ataviada por um sorriso.
Venham eles.
posted by P.A., 7:16 da tarde | link | 1 comments |

segunda-feira, maio 29, 2006

Stoked

E lá vais tu mais uma vez..será que não aprendes?
O pé tem de vir para cima mais cedo, o corpo tem de estar mais chegado para trás na prancha senão quando a onda te agarrar vais afundar o nose em demasia, mais rápido, mais cedo.
Pára de te queixar. Pragueja à vontade, sabes que a culpa é tua e só tua. O mar é mutável, não há duas iguais, a corrente, o vento e a ondulação são teus velhos conhecidos e se houve uma coisa que aprendeste foi que vives aqui há demasiado tempo para arranjares desculpas estúpidas para a tua inépcia. Salta lá para cima e rema com convicção, senão ele apercebe-se. Volta lá para fora. Senta-te e espera. Observa o que se passa à tua volta, não te disperses. É dificil, eu sei, este estado nirvânico faz-te voar para longe, para perto, para dentro de ti. Aqui o tempo ganha outra dimensão, pauta-se no voo da gaivota que passa, na gota salgada que ensopa a pestana e no azul esverdeado em que flutuas. Faz-te voar.
Mas não há contemplações e margem para dissertações sobre existêncialismos quando queremos crescer. E tu queres ignorar esse peso adicional como factor preponderante na tua evolução.
-"Oi!OOi!!" - Vês qualquer coisa...sim, lá vêm elas. Após milhas e milhas a percorrerem o oceano, criadas por ventos em lugares distantes, aqui descarregam a energia acumulada ao longa da sua viagem. Como se estivessem destinadas a fazerem-te feliz, como uma prenda ou uma jura de amor sincera. Quem és tu para desiludir tal milagre?
Vai! Vai! Rema como se não existisse amanhã! Olha para a tua colocação, não te antecipes nem chegues atrasado, ela é unica, não percas esta oportunidade. Doi-te o ombro, bufas de esforço, mas está quase, já lhe sentes a respiração por detrás de ti. De subito cresce e entrega-se, nada se compara a esta crua e obcessiva demonstração de poder. Já te apanhou, sentes a sua mão a embalar-te com força para a frente, é agora, não há hesitações, sê lesto, conciso e sobretudo...tem atitude. Mãos no sítio certo, o corpo projectado para cima com os dois pés a aterrarem ao mesmo tempo e a prancha ganha uma velocidade que parece incontrolável enquanto desce a onda. Se o equilibrio não falhar, o pior está feito, agora é só química...virar devagarinho, caminhar para ganhar ou perder velocidade e a fazer amor com o mar. Como se fosse a primeira vez.
Brinca, sorri, dá gritos e uiva porque estás feliz, agora sim, estás feliz.
Aqui o jogo é justo, não há bluffs, mentiras ou dissimulações, o que tu vês é o que tens e cabe-te a ti decidir se estás à altura ou não dos acontecimentos. A única desilusão que podes ter é se pensares que dominas alguma coisa. Aqui aprende-se a ser humilde nas afirmações de invencibilidade, julga-se o réu com um juiz destacado por seres divinos. Em tempos distantes de imberbes certezas já cometi a atrocidade de comparar o mar a uma mulher que se ama.
Levantei-me e remei lá para fora mais uma vez.
posted by P.A., 12:17 da manhã | link | 2 comments |

quinta-feira, maio 25, 2006

"Quando eu fechar os olhos vocês hão-de se comer uns aos outros!"

Assim saiu a frase que me despertou o interesse na conversa. As personagens situavam-se na casa dos 70 anos e as pérolas de sabedoria saiam como balas redondas de um arcabuz centenário. Por entre um vernáculo bastante profícuo para o rumo das dissertações, demonstravam a sua desilusão com o presente, o seu revivalismo com o passado e a negação absoluta de um futuro. O espectro de assuntos foi extraodináriamente vasto. Desde a imigração e o quanto era importante negarmos a entrada a esses tipos que vêm para cá tirar-nos trabalho; desde o desperdício de esforço gasto hoje em dia para os jovens estudarem e não começarem a trabalhar "assim que o pau cresce"; o facto de as mulheres andarem a roubar o emprego aos homens e daí existirem tantos divorcios porque elas "vão é para serem montadas" (este tópico extravasou para a nostalgia da erecção, e os comentários lascivos para os membros do sexo feminino que passavam tornaram-se mais acentuados); e por aí em diante, o governo, os políticos, o jipe que tinha estacionado com a roda em cima do passeio...ainda elogiaram o arrumador drogadito (que estava com uma broa tão grande que mal se tinha em pé) dizendo que: - "este sim, é que trabalha!tá cá sempre.e depois de almoço tá sempre assim...c´os copos!".
Mas a parte melhor veio quando saiu de serviço o empregado do café e lhes deu um aceno de despedida. Um homosexual dificilmente consegue dissimular os seus trejeitos, e eu nem acredito que este tente, ou queira, porque eram bem evidentes.
- Bom moço, este Fernando, bonito moço.
- É verdade, sim senhor, já não se fazem homens assim!
- Muito simpático, educadinho, ri-se muito...sim senhor!
- É verdade. Deve andar atrás delas todas!E usa aquelas roupas coloridas...é a moda, ou lá o que é isso!
De lábios mordidos para não me rir, levantei-me com a sensação de que na vida tudo se aprende.
Ou não.
posted by P.A., 10:41 da tarde | link | 3 comments |

segunda-feira, maio 22, 2006

O meu cão Tiago Filipe

Muitas vezes explode a discussão
de quem tem gato e quem tem cão
Vai-se a ver quem é destinto, afeminado ou macho
nas razões eu não sucinto, é tarefa dura ou berbicacho

Dos felídeos o olhar assusta
Aquele caminhar a quem não custa
surpreender com emboscadas
pardalecos e outras bicharadas

Que cão se conhece
que a seu dono não obedece
aquando um bife se lhe deita
Cuidado com a mão!ele aproveita..

De gatas percebo eu, pois tenho três
e mais viriam não fosse a sensatez
Mas desiludidos não fiquem os adeptos dos caninos
um dia escolherei um de uma ninhada de cachorrinhos

Agora vem a questão do nome do animal
E é por ser para mim um ser tão especial
que lhe darei o título pomposo
de o chamar como a um émulo invejoso
posted by P.A., 12:16 da manhã | link | 1 comments |

domingo, maio 21, 2006

parir o Monstro

a previsibilidade dos passos
naquela caminhada que eu não queria ver
era a das letras demasiado coloridas nas paredes da cidade
era a dos textos apagados com a leveza da vulgaridade
era a da frase feita que saiu a medo no meio de "surpresas para te contar"

a previsibilidade dos passos
naquela caminhada que eu não queria ver
alojou-se em desconfortáveis confrontos com gente importante
aninhou-se em silêncios multiplicados por mil
acolheu a nostalgia de uma reinvenção que nunca chegou a acontecer

a previsibilidade dos passos
naquela caminhada que eu não queria ver
foi denunciada num olhar, numa conversa, nos trejeitos de quem seduz
foi questionada por passados como quem não quer ter futuros
foi camuflada por juras e valores a que se agarram as incertezas

a previsibilidade dos passos
naquela caminhada que eu não queria ver
dissimilou-se numa doença, ficou turva por inépcia
transformou-se numa segunda porta para o túnel dos segredos
fundiu-se numa conjectura de mentiras, no limiar onde um homem o é

na previsibilidade desses passos
da caminhada que agora vejo
sorrio porque previ o meu PArvo destino
a indelével marca do que sou e como amo
e que a morte das promessas é sinal que se quer viver




E agora que já saiu...pouco há a fazer.
posted by P.A., 11:15 da tarde | link | 1 comments |

sexta-feira, maio 19, 2006

O trompete e a besta

Estas só. Esquece o redondel e as bancadas e o cercado vermelho que te envolve. Dentro do teu fato bordado a pedras preciosas e a linhas douradas sentes-te transfigurado num heroi, o centro das atenções numa festa onde o macabro se confunde com a raíz do medo. O homem contra a besta. Uma massa negra plena de furia e força de viver reclama para si todo um conjunto de mitos, o animal que personifica em si a irracionalidade da natureza na sua plenitude de sobrevivência. Deslumbrante. Nobre e lutador se quer, assim se honra o eterno desafio da supremacia humana. Que fracos seres somos, espectadores ávidos de glória perante os nossos medos. Mas tu não o sentes. És de pedra, andas com orgulho de guerreiro, és a derradeira esperança de um "bem contra o mal". Pisas a arena munido de uma ridícula capa, ludibriarás o teu destino e enfrentarás a morte se for preciso, a justeza desta dança assim o exige, mas tu sabes isso. Que se abra a porta e venha a fera, é tempo de lhe deixar cheirar o sangue da vingança. As primeiras investidas são de uma violência desmesurada, ele quer consumar toda a sua pujança numa derrocada fatídica, cumprem-se-lhe as razões que o seu instinto reconhece. Os teus pés mal se deslocam. Quiseram as sortes que o toureiro que inventou esta técnica fosse coxo, e não pudendo correr nas suas esquivas, desenhou uma forma quase estática de movimentos que roçam os limites da insanidade.
Jogas com a tua capa vermelha no rosto do touro, enrolas-te nela e rodopias pronto para a viragem raivosa daquele que pensava saber onde te escondias. Uma vez. Duas. Mais outra e outra, cada vez mais fluido, cada vez mais hipnótico. Os teus gestos começam a parecer de gozo perante o triunfo da ousadia sobre a força bruta. E de repente...de repente. Um som requebrado parte de um trompete no alto da praça. Flutua sobre a areia remexida pela dança, sobre o suor no pêlo negro, sobre o teu olhar concentrado no próximo passo, sobre uma vontade visceral de acreditar ser possível dominar o indomável. A banda solta-se de mansinho, as castanholas lembram-nos um Sul com mulheres de vestidos com folhos e rostos ciganos. Mas aquele trompete é uma ode às coisas belas. A magia daquela musica funde-se num olhar vazio de um touro que não compreende o porquê de não conseguir matar, no suspiro aliviado de gente que não quer ver morrer, e neste louco registo as notas sobrevivem...sublimes.


Ser humano é ter defeitos incontornáveis, e usurpar dos direitos de um animal por puro espectáculo de entretenimento é bárbaro. Inquestionável.
Mas eu gosto da minha vida com sal.
posted by P.A., 1:12 da manhã | link | 2 comments |

segunda-feira, maio 15, 2006

Quimeras aprovadas pela norma Londrina

agora
agora que vestimos a pele parda da confortável sempre presença
a voz no tom festivo e acolhedor será mais cara
os tempos mortos morrerão mais sós
os lugares no muro onde à meia noite a relva é borrifada estarão vagos
a bola correrá para parte incerta sem o chuto desajeitado
o ritual da partilha de merda perderá aficionados
o eterno "temos de mudar de sítio",
a imensa inércia de propostas de planos credíveis para mais uma noite em que todos sabemos que pouco se vai passar - a indecisão é apenas um desbloqueador de conversa - ,
vão faltar (des)argumentos nessas noites
os cromos da caderneta vão para longe e não sabem que nada vai ser como dantes
que há páginas que vão ficar incompletas
que há risos que não vão ser partilhados
que eu vou ficar mais pobre.

Aos que ousam a sorte protege. Que sejam felizes. Até já meus manus.
posted by P.A., 11:43 da tarde | link | 0 comments |

domingo, maio 14, 2006

Fui eu que ouvi ou foste tu que disseste?
Onde se perdeu a origem de algo que julgo ter nascido de um longo silêncio?
Foi a minha mente que criou aqueles desenraizados sons ou foi a tua voz rouca que propositadamente balbuciou timida antes de uma despedida igual a tantas outras?
Carrego no botão vermelho ainda com o sorriso pendurado e cai o pano de mais um encontro, mergulha-se a memoria num retrovisor azul de signficado, entre pranchas, olhos grandes num rosto despenteado pelo ar quente e cães não-cegos com vontade de ladrar mais alto que a musica...


Nesta periferia daquilo que não é comunicável ganha o sentido da palavra não dita, nesta encruzilhada de subtis batalhas por quem quer ser mais lúcido ganha o som da palavra não ouvida.
Estranha forma de entendimento. Escolho o plano A. Ouvi e gostei.
posted by P.A., 9:54 da tarde | link | 2 comments |

sábado, maio 06, 2006

em manutenção..

O
dono
deste blog
decidiu suspender a
actividade por motivos de
salubridade literária dos seus textos.

Retomar-se-á em breve o obrar
da escrita, assim que o ar
estiver respirável
de novo.

Até já.
posted by P.A., 8:48 da tarde | link | 2 comments |

quarta-feira, maio 03, 2006

Cinzento


Também é preciso, dizem alguns.
Lava-se a alma e espantam-se os espíritos, dizem outros.
Nunca fui apologista de me deixar apoderar por este tipo de sentimentos, sou por natureza um excessivo, tudo para mim tem de ser desmesurado, vermelho, vento forte, mar crespo. A tristeza é um lençol desprovido de cor, uma névoa que esconde o sol, um som em surdina numa orquestra em êxtase. Prefiro a raiva, o ódio, o orgulho de nunca baixar a cabeça, a glória de admitir erros, e PArvo como sou, não poderia deixar de o ser estando alegre a maior parte do tempo.
Mas hoje veio de mansinho, ignorou o dia bonito, passou ao lado das músicas e dos felizes sinais que o mundo emana quando a vida nos corre bem. Porque é disso que se trata. Porque tem de existir um mau-estar latente para nos deixarmos acercar das linhas negras da melancolia, o peso da cruz só tem significado para quem a quer carregar às costas.

Hoje estou triste.

Ganho coragem ao dizê-lo e permito-me a veleidade de o admitir a mim mesmo. Não. Admitir, não. Permitir. Guardo em mim há demasiado tempo este reservatório mental de angústia que aprendi a ignorar. A conviver com a sua ausência. A extinguir-lhe as manifestações. Foi um processo de sobrevivência, nada foi estudado nem premeditado e até o facto de ser este o estranho preço a pagar por uma auto-recriação me surpreende...mas hoje cedo. Hoje é o dia em que sou a vítima, o mendigo indigente, o albatroz sem mar.
Quero a languidez do pôr-do-sol, quero a letra e as notas azuis daquela coisa a que chamam de música mas que nesta altura tem o sabor salgado de uma lágrima, quero caminhar pela multidão sem tempo e olhar-lhes a existência, quero perder-me no passado e viver de novo tudo o que destruí com carinho, quero qualquer coisa forte nesta coisa amorfa e seca que esta no peito...dedicar-me a esta como se fosse a primeira e a última, esta tristeza.

Acredito que necessitamos de reviver sentimentos, assim como que para renovar o dom da surpresa. Estou feliz por conseguir estar triste de novo. Acho que é bom sinal...
posted by P.A., 12:38 da manhã | link | 2 comments |