segunda-feira, maio 29, 2006

Stoked

E lá vais tu mais uma vez..será que não aprendes?
O pé tem de vir para cima mais cedo, o corpo tem de estar mais chegado para trás na prancha senão quando a onda te agarrar vais afundar o nose em demasia, mais rápido, mais cedo.
Pára de te queixar. Pragueja à vontade, sabes que a culpa é tua e só tua. O mar é mutável, não há duas iguais, a corrente, o vento e a ondulação são teus velhos conhecidos e se houve uma coisa que aprendeste foi que vives aqui há demasiado tempo para arranjares desculpas estúpidas para a tua inépcia. Salta lá para cima e rema com convicção, senão ele apercebe-se. Volta lá para fora. Senta-te e espera. Observa o que se passa à tua volta, não te disperses. É dificil, eu sei, este estado nirvânico faz-te voar para longe, para perto, para dentro de ti. Aqui o tempo ganha outra dimensão, pauta-se no voo da gaivota que passa, na gota salgada que ensopa a pestana e no azul esverdeado em que flutuas. Faz-te voar.
Mas não há contemplações e margem para dissertações sobre existêncialismos quando queremos crescer. E tu queres ignorar esse peso adicional como factor preponderante na tua evolução.
-"Oi!OOi!!" - Vês qualquer coisa...sim, lá vêm elas. Após milhas e milhas a percorrerem o oceano, criadas por ventos em lugares distantes, aqui descarregam a energia acumulada ao longa da sua viagem. Como se estivessem destinadas a fazerem-te feliz, como uma prenda ou uma jura de amor sincera. Quem és tu para desiludir tal milagre?
Vai! Vai! Rema como se não existisse amanhã! Olha para a tua colocação, não te antecipes nem chegues atrasado, ela é unica, não percas esta oportunidade. Doi-te o ombro, bufas de esforço, mas está quase, já lhe sentes a respiração por detrás de ti. De subito cresce e entrega-se, nada se compara a esta crua e obcessiva demonstração de poder. Já te apanhou, sentes a sua mão a embalar-te com força para a frente, é agora, não há hesitações, sê lesto, conciso e sobretudo...tem atitude. Mãos no sítio certo, o corpo projectado para cima com os dois pés a aterrarem ao mesmo tempo e a prancha ganha uma velocidade que parece incontrolável enquanto desce a onda. Se o equilibrio não falhar, o pior está feito, agora é só química...virar devagarinho, caminhar para ganhar ou perder velocidade e a fazer amor com o mar. Como se fosse a primeira vez.
Brinca, sorri, dá gritos e uiva porque estás feliz, agora sim, estás feliz.
Aqui o jogo é justo, não há bluffs, mentiras ou dissimulações, o que tu vês é o que tens e cabe-te a ti decidir se estás à altura ou não dos acontecimentos. A única desilusão que podes ter é se pensares que dominas alguma coisa. Aqui aprende-se a ser humilde nas afirmações de invencibilidade, julga-se o réu com um juiz destacado por seres divinos. Em tempos distantes de imberbes certezas já cometi a atrocidade de comparar o mar a uma mulher que se ama.
Levantei-me e remei lá para fora mais uma vez.
posted by P.A., 12:17 da manhã

2 Comments:

Consigo imaginar-te na perfeição, em cima da nossa Marilu.. Consigo imaginar o teu sorriso coberto de mar! É bom.
commented by Anonymous Anónimo, 3:17 da tarde  
não é nenhuma atrocidade comparar o mar a uma pessoa que se ama. só depende da perspectiva...
commented by Blogger colher de chá, 5:56 da tarde  

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