terça-feira, junho 27, 2006

"Princípios" de Nuno Júdice

"Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor."




( ....mais uma voltinha no carrocel, meu ingénuo petiz? )
posted by P.A., 11:42 da tarde | link | 2 comments |

5h30 am



Amanhã assim será. Só que sem sol. Ainda sem sol.
Quero que o orvalho da mata se misture com o sal que paira na rebentação.
Quero estar completamente só lá dentro. Eu e a Marilu.
Que sejam de ouro estes ultimos beijos.


Depois pode aparecer por detrás da Arriba o luminoso.
posted by P.A., 11:14 da tarde | link | 2 comments |

depois de mais um brilhante filme de assaltos


Pois sim, é claro que vou, já não é a primeira vez que o equaciono.
E vai ser perfeito.





O estudo.
as longas horas de planeamento, de cálculo do erro, de hipóteses de fuga, de vectores e ângulos de ataque, de controle sufocado para que a loucura não trespasse a garganta num grito de ousadia.

O truque.
porque cada espreitadela na janela do sucesso tem de ter um. Não é concebível uma vitória sem uma estratégia inovadora delineada e aqui trata-se de ganhar no mais velho jogo do mundo, e eu quero ser o rato. Não existem verdades absolutas, apenas vontade de acreditar nelas. Como contornar miragens? Criando cenários.

Os valores.
não quero mentir. Tenho-me em boa conta. A incapacidade de prejudicar alguém que percorreu o caminho dos justos não me daria o eterno conforto. A banca foi o negócio mais lucrativo no nosso país nestes tempos de crise. Daria para dormir descansado. Muito descansado sabendo que tantos contraentes de empréstimo sobre empréstimo esboçariam um sorriso de gozo.

O Timing.
talvez nunca. Talvez quando me fartar de ser mais uma peça desvalorizada numa sociedade ensonsa e entristecida. Talvez nunca. Talvez quando ponderar sobre a minha vida e cair-me no goto aquele gosto inconfundível da fronteira por ultrapassar.
Talvez nunca.

mas se tiver de acontecer. Vai ser perfeito.
posted by P.A., 10:20 da tarde | link | 0 comments |

sexta-feira, junho 23, 2006

desapareceste...ainda não totalmente, mas quase...

ainda



esperança.

De que aquela coisa

que não querias chamar de esperança

não tenha morrido.

Não te puxo mais,
solto o cabo num Adeus repetido
Arrasta-se o olhar no proximo casual "existes".
Venham as sonoridades de Piazzolla.
posted by P.A., 2:43 da manhã | link | 1 comments |

Formigas

A formiga que no carreiro vinha em sentido contrário não é um bom exemplo. Chamem-lhe de revolucionária, de controversa e indisciplinada, mas é a excepção que faz a regra. Em uníssono, percorrem os trajectos funcionais a que as químicas da sua comunicação obedecem. Aquelas anteninhas sinistras cumprem objectivos altamente específicos na sua linguagem, e as acções a que os seus corpos se entregam fazem parte de um todo, de uma unica forma de agir, de uma inteligência superior formada pela colónia.
A base é o dialogo. A mensagem que não se perde, a meta final que um estafeta nunca corta mas corre e não questiona, a engrenagem pequena no tique-taque cósmico.
Se aplicarmos este conceito a tudo o que é orgânico, que se desenvolve e interage com o meio (entre pares e não só, nem precisando de extrapolar simbioses), observamos que raramente existem falhas. Imagino agora a primeira bactéria que se replicou com um ataque de egoísmo e de casmurrice...teria existido um caldo primitivo? - "Não. Desculpa, mas não. Isso do oxigénio ser fundamental é falso. Desemerda-te!" - Absurdo.
E assim se simplificaram as coisas, uns criaram formas químicas de comunicação, outros sons em multiplas frequências, e até mesmo os gestos jamais deixariam de contribuir para um profundo entendimento comum entre dois seres.
E depois aparecemos nós.
Deuses na Terra, senhores da natureza, invencíveis sobre as leis que os criaram. Continuam a existir estudos sobre a complexidade da nossa linguagem em comparação com a de outros animais com capacidades encefálicas semelhantes, mas ainda não passam de boatos científicos inconclusivos. Não existem descodificadores, óbvio.
Mas não é esse o aflorar da minha questão. Eu quero saber o porquê. Porque é que não se ouve enquanto se escuta, porque não conseguimos moldar o pensamento de modo a absorver realidade sem nos desviarmos de um centro? Não peço subserviências, peço esclarecimentos. Não peço tortuosas e labirínticas formas de orientação de discurso, peço clareza nas palavras e honestidade no propósito. Não peço resultados e consensos, espero respeito pelas diferenças de discurso. Porque as há.
Salte agora o jogo de cintura quando a música que toca não é a que gostamos.

E o jogo perdura.
Sei o que ouço e sei o que digo pois estou AQUI dentro.
Sabes o que dizes e sabes o que ouves pois estás AÍ dentro.


P.S. - "Desculpe..Não se importa de me dar a chave desta casa-de-banho por favor?"
posted by P.A., 1:38 da manhã | link | 1 comments |

segunda-feira, junho 19, 2006

Nomes

Um armazém, ou biblioteca ou arquivo, ou qualquer coisa dessas onde se possa guardar com a ordem e a disciplina a que o Tempo obedece, esta lá ele. Guardado. Categorizado. É um nome. Tem forma, cheiro, côr, toque, musica. Quem o guardou é um senhor velho, mas não é velho de todo, foi o conhecimento que lhe moldou as rugas, repare-se que este trabalho herculeano tem a particularidade de necessitar de uma ávida procura da descoberta, do que é novo. Respeito para este senhor, portanto. Já viu nomes morrerem por não serem procurados, já viu nomes serem trocados por outros que lhes roubaram o significado, e mais triste e complicado...já viu nomes que foram deportados do mundo onde viviam para serem isolados em prateleiras na zona mais obscura do tal sitio onde se guardam. Porquê? Porque tiveram o infortunio de serem carimbados com o selo Azul. Ui. Esse gesto assusta o velho senhor que até é novo, ele sabe que a qualquer momento esses nomes podem encher uma prateleira de tal forma que quando aparecer um nome igual (acontece frequentemente) não haverá sítio para novas aquisições de material explorável e enriquecedor.
Aí bufa, gesticula e espreneia como se de uma birra por um chupa se tratasse. Não quer perder nada. Não pode perder nada. São nomes e têm o seu espaço. Merda para os selos.
posted by P.A., 2:43 da manhã | link | 0 comments |

Malfadado Fado

Mais uma vez não.
Ter de suportar a ausência repentina daquilo que és, da presença com que enches o espaço nas nossas vidas. Animal como és, como nós sofres. Nesse limbo que agora percorres desejo que possas voltar.
Mais uma vez não.
És pequena, estava a começar a perceber como gostavas que te tratasse, não tinhas, nem querias ter juizo ainda. Se ao menos nesta malfadada rua onde passam os malfadados carros, os gatos não tivessem o malfadado destino de se atravessarem fugidios e atordoados pelo ruido. Não seria um malfadado fado.


Não és Piaff, és Lara. E ontem não chovia como naquele noite fria.
posted by P.A., 2:24 da manhã | link | 1 comments |

quarta-feira, junho 14, 2006

Medusa

Petrifica esta expressão.

Vagueias pelas regiões Hiperbóreas como se te fosse permitido, usas o nome que te precede para gerares o atrito que necessitas para viver. Cais como se nunca te tivesses levantado...como um cambaleante e escanzelado potro. Na fria e inerte massa em que transformas tudo o que olhas, há uma existência que não consegues alcançar e isso é uma dor tão pungente e palpável que nem a frustração dos teus nados orfãos te aconchegam.
Doi apenas ser morte, esperança de conclusões definitivas, caos ordenado e repetitivo.
Doi seres tu, quando me petrificas esta expressão.
Quem dera nunca ter olhado.
posted by P.A., 2:48 da manhã | link | 0 comments |

domingo, junho 11, 2006

7 razões por não ter escrito mais cedo.

a imagem da lua cheia a nascer por detrás do avião parado como quem descansa.
o sorriso da menina já senhora que me enuncia todas as viagens que já fez e que isto não é novidade para ela, corrigindo até os meus estapafurdios cálculos de fusos horários.
os loucos russos que queriam ir a pé até ao avião e tirar fotos a tudo, acabando por se despedir de mim com um caloroso aperto de mão e confidenciando-me (um deles) que quando viessem de casa trariam mais dois passageiros...os filhos.
o vai-vem dos carros na placa, autocarros, shutles, follow-me´s, escadas de acostagem, abastecimentos, limpeza, catering, vagões de bagagem, manobradores de aviões...e tudo com a sincronia de um formigueiro prestes a ir para a guerra contra um clã vizinho.
aqueles labirinticos caminhos onde tudo se vê, desde o mais perdido dos seres ao verdadeiro conquistador dos céus (aquele espaço é o seu domínio), o palmilhar de quilómetros torna-se uma rotina determinada e cronometrada ao segundo.
o velhote francês que me mostra um maço de bilhetes e não quer largar o passaporte com medo que este tenrinho objecto engravatado lhe roube a sua unica garantia de ser quem diz.
os veteranos colegas que nos guiam, culpabilizam, acarinham quando dizemos pela décima quinta vez nesse dia "desculpe lá a pergunta parva, colega, mas comecei ontem sabe...", olham de revês quando se apercebem da iniciativa própria de quem quer aprender tudo o que for possível, que nos retribuem o cumprimento com aquele...aquele olhar cheio de revivalismo que lhes faz lembrar o porquê de gostarem tanto deste mundo.

Sim. Porque, e não me canso de dizer, é de um mundo que se trata. Que mais não fosse pelo facto de ali se consumarem todas as elegâncias do acto de viajar, existem também muitas viagens interiores. Eu que o diga. Hoje fui surpreendido ao aperceber-me que me ria sem nenhuma espécie de auto-controlo...tinha desculpa.
Fim de tarde, a tal luz mágica em que a lua nasce, os monstros alados agora silenciados na placa, a aerogare lá ao fundo escondendo o seu burburinho interior naquelas luzes difusas, completamente sozinho (de check-list na mão e colete amarelo fluorescente por cima do fato) no stand J06 à espera do TP619 vindo de Bruxelas.
Ele aí está. Enorme e poderoso cruzador de horizontes azuis.
Aparece primeiro o berrante follow-me que lhe indica o estacionamento, sai de lá um louco com uns auscultadores nos ouvidos e uns sticks luminosos com que gesticula frenéticamente, os reactores diminuem o ruido ensurdecedor, colocam-se os calços nas rodas e as escadas acostam às portas. O autocarro já aí está? Okapas. Let the rush beguin.
Tinha desculpa para me rir que nem um PArvo. Estava ali e fazia parte daquilo. E sozinho...só eu e o meu corpo carregadíssimo de adrenalina.
posted by P.A., 12:51 da manhã | link | 3 comments |

segunda-feira, junho 05, 2006

34 pés


- À patrão!! - dizia ele em êxtase agarrado à roda do leme.
Venha o vento da boa fortuna para que adorne o veleiro dos teus sonhos.
Estaremos lá para orçar contigo.
posted by P.A., 10:42 da tarde | link | 0 comments |

...engenharia das palavras...

No meio dos grandes centros consumistas existem pequenos oasis (normalmente têm siglas como nome e fazem parte de uma cadeia francesa) para aqueles que querem encontrar modos comuns de olhar o mundo. Partilhas, vá.
Num encaixotado cubo castanho perfiguram-se três personagens sentadas numa mesa azul. A plateia espera ouvir falar de poesia. Estranha conjuntura se adivinha deste cenário, os curiosos que passam e se quedam na atenção interrogam-se nas expressões dramáticas como "detesto a engenharia das palavras", ou "não gosto muito de adjectivos", alardeadas pelo Sr Poeta de comprido cabelo grisalho.
Ao meio, entre o editor e o Sr Poeta, está a imagem doce e cândida de uma meninez inacabada, de uma ternura tímida e misteriosa. Aqui apresentava o seu mais-que-tudo ao mundo, e via-se que lhe queria bem.
Ao meu lado, um okupa de barcelona, um viajante na Índia e tocador de citara, um futuro colega no mundo dos voos, diz-me que a conheceu em Paris. Brilha-lhe o olhar quando desvela que ela já lhe dedicou um poema.
Dentro de mim vejo um livro cheio de sonhos e palavras criadas do nada, a vontade de as agarrar e trinca-las de fome, a audácia de tocar as pessoas e esboçar desenhos dando a cada qual o seu próprio pincel.
Aprendi isto... permitam-me.
Um livro de poesia não se lê, visita-se. E sempre em nova morada.



A não deixar de visitar: "Prefloração" de Catarina Nunes de Almeida
posted by P.A., 9:54 da tarde | link | 1 comments |

Ouçam as pancadas de moliére...


E lá estavas tu, envolvida em histerismos, roupas de folhos e hipocondríacos senhores.
Lá estavas tu, cheia de expressão e dramatismo, de cor e de vida.
Lá estavas tu, para que te vejam e aplaudam, para que se entreguem à devoção do espectáculo maior.

"Venha ao teatro. Mal não lhe fará."
posted by P.A., 9:41 da tarde | link | 1 comments |