sexta-feira, março 31, 2006

Marias

Corre.
Luta.
Foge e encontra-te de novo.
Ousa.
Procura.
Sabes que vais cair, mas o teu corpo ganhou forças que desconhecias.
Olha em frente.
Cresce.
Ilude-te.
Voa e sonha ou Sonha e voa.
Morre a cada respiração e renansce em cada novo olhar.
Desespera com a nostalgia do tempo queimado.
Escolhe caminhos e perde-te uma e outra vez.
Erra com a certeza de que vais aprender.
Aprende com a certeza de que podes errar.
Não somos nossos, somos de tudo o que nos rodeia e cria e molda e nos sorve a essência.
Vagueia pelo mundo e torna-te um vagabundo poliglota.
Apanha os pedaços.
Recria-te com outros cheiros.
Conquista o Azul e sobretudo...evita os falhados poetas.
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quinta-feira, março 30, 2006

Pairar no tempo

Ao remexer em velhas gavetas encontrei um pequeno cartão que dizia "Casa da Árvore". Imediatamente fui transportado para uma pequena aldeia altaneia no seu castelo que, perdida nas nuvens, separa o montado alentejano das vistas mais serranas do norte. A sua posição geográfica (a 800 metros de altitude) permite-lhe mesmo ter esta capacidade de observar de cima a alteração dos horizontes. É deslumbrante. E é uma aldeiazinha adorável que é acolhida no seio da fortificação, com os seus jardins e miradouros e as suas gentes de sotaque arrastado cheio de bonomia.
A Casa da Árvore fica num largo e a sua varanda fica colada a uma das muralhas viradas a Sul, dando-nos por vista o bucólico alentejo. Acordar de manhã, comer torradas com compotas caseiras e depois voar pela paisagem ou ser acarinhado pelo sol matinal enquanto se lê um livro, é uma das sete maravilhas da minha existência. Já partilhei este cantinho do mundo com Mar no nome com pessoas que completam aquilo que sou, e sei que voltarei uma e outra vez.
Um dia vou esconder a minha alma numa pedra da velha muralha, e vou observar alguém que a procure, divertido e acreditando na possibilidade de ser "encontrado". Já o fiz em sonhos e soou-me bem. Assim como as nuvens tocam naquelas paredes milenares, assim como os sons da noite ecoam nos vales bem lá em baixo, assim como os gatos percorrem as ruas em procura de afectos estrangeiros, algo naquele local permanece imutável e fidedigno a razões mais fortes que o entendimento das coisas intemporais. Ali sou grande.


P.S. - Desculpem o Sul com maiúscula e o norte sem, não tem a ver com regionalismos mas sim com direcções de sonhos.
posted by P.A., 8:03 da tarde | link | 0 comments |

terça-feira, março 28, 2006

A fronteira de Gaza

O olhar dos que pedem permissão aos soldados para passar é de suplica. De justificação para poderem entrar e sair no seu próprio território. Sabendo que aquela porção de terra foi a que ao longo de toda a história mais guerras sofreu pela sua posse, julgo-me demasido ignorante para aprofundar juizos de valor. Sei para onde o meu coração bate, só isso. E não esqueço aquele olhar.

Guerras de fé.
posted by P.A., 11:35 da tarde | link | 0 comments |

Muros

Começa-se por utilizar uma escova de palha de aço para limpar a poeira e a humidade enamorados pelos elementos. Com algum esforço, a superfície fica despida dos despojos da passagem do tempo, aparece nua e pronta para uma nova realidade. Cada poro, cada canto mais recôndito é meticulosamente vasculhado, não vão ficar assuntos mal resolvidos. A partir daí abre-se a lata de nova vida e mexe-se a tinta. Várias vezes, para ter a certeza que coágulos de dúvidas não impregnem a nova máscara. Depois vem o rolo, embebido em branco e charmoso na sua forma de acariciar a parede, uma e outra vez, para cima e para baixo, para um lado e para o outro. Agora que seque. Que se habitue à sua nova condição e se prepare para mudar pois as manchas ainda se vêem e o mundo está à espreita. Mais uma vez o rolo e está pronto. Branco imaculado e muitos anos de presença forte e segura.

Passo agora a explicar o porquê de uma entediante descrição da pintura de um muro. Porque ao ter este herculeano trabalho comecei a fazer analogias com um ser humano a transformar-se e a mudar para melhor. Se calhar afeiçoei-me à estupida parede, ou então estou mesmo a ficar maluco. Mas vejamos. Um muro é uma entidade física imutável (a não ser que seja destruido) e nós também o somos. Se na sua superfície lhe povoarmos as mazelas, as irregularidades, até mesmo os buracos, vemos que também nós as temos na nossa personalidade (criadas por inerência ou por factores de vivência), e que a renovação da sua pintura não é mais do que uma recriação do seu estado original. Uma renascença portanto. O novo brio não esconde o passado que o marcou, mas a pureza da côr dá-lhe ânimo para mais uns anos de resistência.
Porque é de isso que se trata...somos todos muros erguidos por alguém que tinha um grande plano.
posted by P.A., 10:50 da tarde | link | 2 comments |

domingo, março 26, 2006

Marcha Sambada - BOITEZULEIKA

"Pedalo com a força que tenho eu só posso pedalar corro a estrada que é feita por pés que não sabem caminhar já estão perto que não posso recuar por pedras paus e pregos eu não posso recuar é tão incerto o toque que bate a marcha regente do torto caminho que nos leva à sorte a boca bebe a água de sange do dono dos braços marchantes cansados que remam o bote já estou tão perto que não posso recuar por pedras paus e pregos eu não posso recuar na berma da estrada o sumo que bebo não se pode já beber a sede velhinha pede-me assim a morte e eu escuso de morrer a fome é tanta que a alma vou vender nem que venda o corpo ou o que o diabo escolher é tão incerto o toque que bate a marcha regente do torto caminho que nos leva à sorte a boca bebe a água de sangue do dono dos braços marchantes cansados que remam o bote já estou tão perto que não posso recuar por pedras paus e pregos eu não posso recuar"
posted by P.A., 9:26 da tarde | link | 0 comments |

Vila Nova da Rainha Setas...e depois?!?!?

Apenas mais um bar no Bairro Alto.

Apenas mais um grupo de levanta poeiras excitados com a ideia de ouvir um bom som.

Apenas alguma sorte à mistura e uma nortenha muito porreira que tambem não sabe ver setinhas côr de laranja minúsculas numa aldeia no meio de nenhures.

Apenas uma casa abandonada num monte e uma roulotte com uma fogueira e um jogo de xadrez desafiando os mais iluminados.

Apenas mais uma noite de comunhão sonora, de imagens psicadélicas, de rituais que nos fazem descobrir que gostamos de nos surpreender, de risos sinceros e espírito livre.

Apenas?

Os apenas não se recordam assim...
posted by P.A., 9:05 da tarde | link | 0 comments |

Um uivo triste

Percorríamos o cercado na esperança de avistar os olhos topázio do Prado, um macho alfa que gosta de se exibir perante os bípedes estranhos. Dizem que quem vê pela primeira vez o olhar de um lobo nunca mais esquece aquela intensidade bruta e crua algo que nos trespassa de medos inconscientes. As explicações da pequena e apaixonada bióloga recorriam a analogias certeiras sobre a sociedade dos lobos e a nossa. As hierarquias, os dominantes Alfas e os acessores Betas, as regras na alimentação e os descriminados e sofredores Ómegas. Fascinante. Mas onde estavam eles? Sabendo que são esquivos e evitam o nosso contacto, cedo fomos avisados que as hipóteses eram escassas, mas eu não desmorecia, vasculhava na densidade da vegetação um possível vulto que me observasse de uma toca, um uivo, qualquer vestígio que me colocasse na frágil posição de observador de algo verdadeiramente selvagem. De lendas e estórias todos construímos uma imagem do lobo como um respeitável predador, de pesadelos de criança e holiwoodescas películas habituamo-nos a vê-lo como uma cratura vil e sanguinária. Eu ansiava o arrepio na espinha quando enfim o confronto fosse real. Enfim morto o mito do uivar à lua cheia (os lobos uivam em qualquer altura, é apenas uma forma de comunicação, e isto não significa que não seja complexa), e desiludidos com expectativas goradas, foi-nos concedida a benece de irmos observar um cercado de quarenta, mais pequenos e reservados a animais isolados por razões especiais. Ao aproximarmo-nos, sobrepôs-se ao tom de voz da guia um lânguido e longo som ténue que parecia esmorecer-se no ar à medida que desaparecia. Um uivo. Era isto? Rapidamente ela explicou-nos que pertencia a um macho juvenil que tinha sido recuperado de um camponês que o tinha acorrentado desde pequeno, como se de um cão se tratasse. Era um animal acossado, esquivo e subdesenvolvido para a idade, que quando foi inserido numa das alcateias rapidamente foi (des)promovido à díficil condição de Ómega. Chegando a uns dez metros da rede conseguimos avistá-lo. Pouco maior que um cão, estava deitado no meio da vegetação e encontravava-se longe o suficiente para nem conseguir uma foto decente. O som que saía quando erguia a cabeça em direcção ao céu era gelado e triste. Tão, mas tão triste que parecia um lamento desgostoso. O chamamanto de um lobo normalmente pode ser ouvido a 5 km de distância, mas este diluia-se no chilrear dos pássaros do final da tarde. Era como se carpisse a sua existência. Regressei a casa com aquela imagem a povoar-me os pensamentos e com a vontade de voltar, ajudar e aprender. Gostava que aquela voz ganhasse força.

Para conhecer melhor, aqui.
posted by P.A., 7:14 da tarde | link | 0 comments |

sábado, março 25, 2006

A moldura suspensa com Amélieces


Faz todo o sentido que volte. Aliás, já era altura.

Mas era preciso que os risos se encontrassem de novo desprovidos de amedrontados sentidos paralelos. O à vontade de cumplicidades justifica a revigorada mostra do passado em precioso veludo de memorias felizes.

Obrigado.
posted by P.A., 3:08 da manhã | link | 1 comments |

quinta-feira, março 23, 2006

Mario de Sá Carneiro - Fim

"Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!..."
posted by P.A., 5:53 da manhã | link | 0 comments |

"Olá!!...Sabes quem fala?"

E foi assim. O telefonema não chegou a acontecer. Possivelmente é um bom sinal, aliás, tenho a certeza de que é um bom sinal. De que é bom esquecer. De que é bom banalizar datas e toldar-lhes a importância. Durante muitos anos as diferentes conotações entregues aquelas frases meticulosamente estudadas por ambos, geravam espectativas em volta de um simples acto de cordialidade. Agora já não. O esquecimento é salutar no ponto em que nada deve ter o mesmo sabor para sempre. Deteriora-se ou refina-se. Neste caso refinou-se para alguma coisa de bom, um passado perdoável e um futuro resolvido. Era agradável ouvir a tua voz, saber que está tudo bem no meio de risos comprometidos pelo embaraço de quem não se vê há muito. Mas também é bom saber que a vida não nos demove de continuar a existir, apenas nos força a afinarmos cada vez mais os nossos mecanismos de sobrevivência.
Ridiculo, não é? Por ti já empenhei a minha fé em ser feliz e agora fico satisfeito por te teres esquecido de mim. Eu não o vou fazer e vou-te cobrar isso com um sorriso sarcástico.
Só porque sim.
posted by P.A., 5:22 da manhã | link | 1 comments |

segunda-feira, março 20, 2006

eu não me devia ter metido nisto...

Gosto da mais pura crítica e observação pertinente às constantes efemérides que acontecem no nosso mundinho português. A minha janela favorita na blogosfera para pensar um pouco, rir-me despreocupadamente e deliciar-me com analogias e sarcasmos bem elaborados é aqui. Nunca me canso de ficar embevecido com mentes bem oleadas...Numa das minhas últimas visitas apercebi-me que um desafio me tinha sido proposto. Pânico. Horror. No turning back...


- O que estava a fazer há dez anos atrás?

Há dez anos atrás gozava a plenitude de uma adolescência cheia de utopias, lirismos e expectativas num futuro que de tão longinquo me parecia estupidamente palpável. Era a fase das amizades cosanguíneas, das paixões eternas, dos pulmões limpos e das bebedeiras memoráveis. O primeiro travo da liberdade ensinava-nos que nada sabiamos.


- O que estava a fazer o ano passado?

Por esta altura estava a tentar encontrar a saída de um tunel frio, profundo e assustador. Tinha descoberto o Outro lado.


- Cinco Snacks que gosto

Ui. Não me orgulho disto...Big Tasty da macdonald´s (aquele molho insalubre, uniformizado,e pré-fabricado nas malhas do capitalismo tem qualquer coisa de orgásmico). Requeijão com doce (slope...tu tás lá!). Buracos dos filipinos (ou a espantosa teoria da evaporação inconsciente...). Português Suave Azul (um dia...um dia destes!). Bacalhau com grão, a comida do Verão (e então?alguém sabe o que digo...).


- Cinco musicas cuja letra conheço de cor
  1. "Leãozinho" de Caetano Veloso
  2. "Blister in the Sun" dos Violent Femmes
  3. "Chaga" dos Ornatos Violeta (e tantas outras...voltem pr fvr!)
  4. "Don´t cry for Louie" dos Vaya con Dios
  5. "Lagrima de Oro" de Manu Chau

- Cinco coisas que gosto de fazer

Surfar, andar de Vespa, escrever, partilhar risos espontâneos e incontroláveis com pessoas azuis, fundir-me numa mulher, ouvir musica bem bem alto, conhecer novos mundos, ver o Friends religiosamente, adormecer sob um céu estrelado, comer melancias sem guardanapo, aperceber-me do quanto sou estupido quando absorvo nesgas de cultura...


- Cinco coisas que faria se fosse milionário

Viajava durante uma década (Depois descansava e viajava mais outra). Comprava todos os carros e motas que já guiei em sonhos. Pagava ao meu amigo André o tratamento nos melhores centros de reabilitação física do mundo. Pagava ao Bush para criar um talkshow. Criava a Azulândia onde todos os que gosto pudessem andar nus e ser felizes...


- Cinco coisas que nunca voltaria a vestir/calçar

Calças de lantejolas justas numa noite de Carnaval no Lux. Gorros de Pai Natal a surfar (ia morrendo...). Sapatinhos de vela num concerto punk. Ensebado ao mais puro estilo estilo "beto da herdade" (aquela merda tem mesmo sebo). Calças de bombasine com joelheiras cosidas pela mamã.


- Cinco brinquedos favoritos

A minha pilinha (é inconsciente e infantil, mas é um optimo passatempo). As minhas pranchas. A minha Vespa. O Migo, a Gigi, a Milu e a Lara. Os meus jogos de carros na Playstation.
posted by P.A., 2:14 da manhã | link | 3 comments |

domingo, março 19, 2006

Poker

Por cima de um pano verde jazem cinco cartas e algumas fichas com valores nada fictícios. À volta da mesa as personagens surgem como herois, com carismas evidenciados pelos gestos que lhes mascaram as jogadas. A aposta é fabricada num logro, ou pelo menos desse principio se parte e aqui a ciência das probabilidades matemáticas tem um papel secundário. Depois o jogo flui, e dado o ponto onde o valor em cima da mesa cresce e a tensão aumenta, os silêncios ganham contornos gigantescos, o fumo molda-se na sua orientação turbulenta, e as mãos tocam nos copos com as bebidas como se acariciassem a sorte... Aí os rostos ganham outros contornos, as expectativas e certezas percorrem a montanha russa dos grandes momentos, tudo com um objectivo claro: Ganhar. Sorrir sorrateiramente ao destino e enganar as ilusões com um par de duques. É a gloria ao invés da deprimente mão que nos calha com uma sequência...e ninguém vai a jogo. É aqui que se definem os limiares da loucura, no abismo da frieza de espírito com a relutância em acreditar que somos apenas humanos...
Não sou um conhecedor, sou apenas um curioso. Já observei alguns grandes, já vi fimes, conheço o mito das grandes quedas. Não fosse eu um eterno aprendiz de mim mesmo e era capaz de afirmar que é o jogo de cartas que mais gosto. E sendo um impulsivo e crónico apreciador de vícios aprendi a respeitar estas paixões diabólicas, temendo pela minha integridade mental e financeira e sobretudo pelo meu amor em ultrapassar o limiar do risco.
Em noites prazeirosas, com amigos, já lambemos de forma inocente esta por de mais fascinante dimensão do ser humano, e entregamo-nos á doçura da aposta.
Eram tostões, mas eram tratados como fichas douradas de elevados centos...
Era apenas uma simples mesa sem pano verde, mas era tratada como se no veludo não pudessem existir erros...
Eram apenas amigos, mas quando a aposta subiu todos os truques eram válidos na leitura da mente do próximo...
Não era um casino mas a atmosfera inebriante onde os sonhos são feitos e os castelos caem estava lá.
posted by P.A., 8:39 da tarde | link | 0 comments |

sábado, março 18, 2006

e ainda mais Álvaro

"Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e práctico
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje qual é o espectáculo que me respeita a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O Porvir...
Sim, o porvir..." in Adiamento de Álvaro de Campos
posted by P.A., 3:55 da tarde | link | 0 comments |

quarta-feira, março 15, 2006

A senhora do Actimel

Lá estava ela mais uma vez. Sóbria e discreta como sempre, mas com o sorriso acolhedor que a caracteriza. Não posso dizer que ela é bonita, mas os grandes olhos por detrás dos oculos castanhos e quadrados, e os colares estranhos mas algo místicos dão-lhe uma aura de suave sensualidade.
Nunca consigo fugir ao estupido "Vai-se andando", acho que está demasiado entranhado na minha pequenez lusitana. Depois a conversa flui e ela ouve-me com aquela atenção de quem analisa cada palavra e detalhe com a precisão de um cirurgião cardíaco.
Impossivel fugir. Impossivel não deixar de sentir paz com as suas palavras.
Acredito que o efeito seria o mesmo se na minha tribo eu procurasse o ancião para respostas a questões superiores ao meu entendimento...não fosse eu um céptico por natureza, creio até que seria capaz de afirmar que confio nela. Não de uma forma cega e seguidista, mas num patamar de admiração por quem consegue ponderar de uma forma tão racional sobre os obscuros caminhos da mente.
É estranho pensar que deixámos um estranho influenciar estranhamente o nosso modo de reparar no mundo. Mas também...se houver alguém na sala que se ache normal, que se levante por favor.
posted by P.A., 6:49 da tarde | link | 2 comments |

terça-feira, março 14, 2006

Malo eres (Bebe)

- Assim dás-me anos de vida, filho! Põe mais alto! -

Apenas mais um milagre perpetuado pela musica. Tenho a sorte de ter uma mãe extremamente sensivel a boa musica. Qualquer que seja o seu estilo. Verdade. Já a pus a afirmar que passando um pouco ao lado o facto de ser um bocadinho acelarado (o trance processa-se a 180 beats por minuto, tem razão), Infected Mushroom surpreendia-a muito. E até gostava. Desta vez foi uma banda de ska/rock espanhola que descobri que a fez sorrir num dia particularmente blue. Fico contente. Gosto de a fazer feliz.
posted by P.A., 10:06 da tarde | link | 0 comments |

Tribo do Sol

Parece que acabou finalmente. Os casacos podem finalmente descançar, as camadas de roupa exageradamente sobrepostas, as mãos com medo de sairem dos bolsos, o desconfortável vento que penetra nos ossos sem permissão para ser desconfortável. Gosto desta altura. As pessoas regeneram as suas esperanças na mãe natureza, observam o renascimento da vida e o cosmos orienta-se novamente nos padrões de satisfação dos mortais. Até ao astro rei lhe é permitida a veleidade de voltar a queimar a sua energia com todas as forças, para bom grado de todos os que a usam para ganhar momento no dia-a-dia. Somos um povo do Sul, definitivamente. Não temos grandes periodos de frio, de mau tempo exigente, de cores cinzentas. Hoje, a caminho das praias perto da grande urbe, vi muita gente de vestes leves e coloridas e sorriso estampado no rosto...desprecupadamente felizes. Fartos de rogar pragas ao frio, esquecemos e brindamos à luz da Primavera com a certeza de que o Verão é uma boa promessa. Porque sim, porque é tudo ou nada, hoje já se registaram 398 acidentes rodoviários causados pelo desvio de olhar lascivo do condutor macho ao top ou à saia reduzida da menina do outro lado da rua. Nada a fazer. Esboço um sorriso e celebro o mês em que vim ao mundo. E até tem mar no nome...bom mês, sem dúvida, bom mês.
posted by P.A., 7:20 da tarde | link | 1 comments |

domingo, março 12, 2006

Agridoce

Hoje sonhei com a noite do vinho tinto...como se fosse a primeira vez.
Acordei sobressaltado e sufocado com a ideia de promessas por cumprir...
Talvez um dia (alguém sussura), talvez um dia.
posted by P.A., 11:07 da tarde | link | 1 comments |

sábado, março 11, 2006

Go Emily!

Noite épica.
Quem conhece o Lounge sabe que um ouvir um bom House/Electro não é coisa estranha por aquelas bandas. Mas ontem excederam-se. Uma DJ australiana, pequenina, franzina e muito mas mesmo muito irrequieta liderava as hostes. Kicks de baixos fortíssimos, electros incisivos, musicas de Gorillas mixadas, e a melhor amiga dela (Samantha) a dançar conosco em frente à mesa de mistura. Eu confesso que sempre gostei de mulheres cantoras, têm qualquer coisa, mas uma mulher a brincar com a mesa como ela fazia...simplesmente fabuloso. E o sorriso, a atitude, a maneira como puxava pelos fantoches...se eu sempre admirei a forma como alguém consegue dar prazer aos outros através da musica, ali estava a minha musa.
Noite épica. De sons e arrepios, risos e luxúria.

Obrigado ao sonambulo pela partilha...
posted by P.A., 3:18 da tarde | link | 1 comments |

quinta-feira, março 09, 2006

Mulher

Depois de ela ter mordido a maçã já pouco havia a fazer...o pecado tinha sido descoberto pelo ser mais fascinante de todos e a certeza de que o Homem poderia ambicionar alguma espécie de controlo, desvanecia-se. Enganem-se os que ainda vivem na ilusão de que somos superiores, é uma aberrante premissa...somos diferentes, apenas e só.
Por entre mães, irmãs, avós, filhas e esposas estamos rodeados. De sensatez, de espírito de corpo, de capacidade de gerar vida no seu ventre (olhem nos olhos de uma grávida e observem o esplendor da realização suprema, nada se lhes compara), de sedução inebriante que nos leva a perder a razão.
Se tivesse de escrever uma ode à mulher começava com - "Oh ser estranho, em que pensas tu?". É uma duvida recorrente que nos assola. Completamente imprevisíveis. Há quem julgue compreende-las...mas também há quem julgue que a Mona Lisa era na verdade um homem.
Neste que foi o seu dia, olho para a minha esfera de conhecimento e reconheço a sua importância naquilo que sou, e embora tenha a certeza de que nada sei, mais quero observar, estudar e conquistar emoções e sentimentos com tal bicho. Que curvilíneo bicho!
posted by P.A., 1:22 da manhã | link | 1 comments |

terça-feira, março 07, 2006

mais Álvaro...

"Símbolos? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo.
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos. -
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas
Para o azul dos céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, ás árvores, aos montes.
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria - pobre figura de miséria e desamparo! -
Que o namorado voltasse para a costureira."
posted by P.A., 10:15 da tarde | link | 0 comments |

Petrolheads

Ok. Já percebi esse riso trocista. Achas que a máquina é velha mas até tem piada, não é? Se calhar até pensas que anda qualquer coisa, mas não o suficiente para queimar o teu diesel comercial com barulho de tractor de quinta. Então ´bora lá...mostra-me do que és capaz. Passagem para 3ª, assentar o pedal no tapete até queimar o vermelho e vamos embora. A goela abriu, o ruido do carburador aberto faz-se soar no grito rouco do escape...there´s no turning back, the race is on. A meio da ponte entra o kick do baixo de Faint. Mais alto, Mais rápido, Mais adrenalina nas veias, estou completamente em êxtase, passagem rápida, o menino não descola. Todas as trajectórias roçam os limites da loucura, vale tudo, isto é a minha pista e aqui não há comtemplações. Não há trânsito nenhum (são 4 da manhã) e os poucos carros que existem são meros pontos luminosos que apenas servem como pontos de referência para a proxima linha de passagem. 185 km/h e muitos decibeis acima do razoável (o baixo já entrou na minha frequência cardíaca) apanhamos o primeiro curvão...calma, concentra-te...o muro está lá para saberes que a travagem tem de ser bem feita, senão a traseira vem ter contigo. Merda. O puto é bom..ou louco. Não se cortou a entrar rápido na curva do forum portanto deve conhecer isto bem. Não interessa, na próxima rotunda estou por dentro - WWWEEEEEEEE!! Carro por todos lados, deriva às quatro, isto é lindo!! Na subida seguinte a força do diesel permite-lhe passar-me...e que sorriso, ele está a alucinar tanto quanto eu...Mais uma rotunda, entrada na variante, coladíssimos, recorro á caixa para recuperar força e aí vai o coupé velhote com os dois oscares orgulhosamente ligados como quem anuncia á estrada que ainda está bem vivo. Chego à rotunda das estátuas com medo de terminar a brincadeira da pior maneira...estou com aquela louca e persistente impressão que isto pode acabar mal. Olho para o espelho e vejo-lhe os máximos e os quatro piscas enquanto vira noutra direcção. Tinha acabado. Apetece-me gritar a plenos pulmões enquanto faço o caminho para casa.
Nós homens gostamos dos nossos brinquedos. Cumplices com a máquina. Gostamos de extravasar os limites do razoável só para conseguir aquele friozinho no estômago quando o motor grita. E os pneus chiam. E a caixa corresponde com um pontapé nas costas. E o asfalto torna-se um tabuleiro de jogo de frieza, concentração e demência.
posted by P.A., 1:51 da tarde | link | 1 comments |

domingo, março 05, 2006

"deixa-te estar..."

É altura de agir!
O Tempo urge e as ideias têm de passar a planos concretizáveis. O caminho a percorrer é tão longo e tão imprevisível que todos os esforços serão poucos, mas não estou só. Juntos, vamos criar algo. Algo nosso.
E acredito cegamente que somos capazes...pois a gloria esta destinada aos audazes.
Ousemos então.

Farto de esperar por Godot, olhei para o lado e vi pessoas azuis com o mesmo sonho.
posted by P.A., 7:59 da tarde | link | 1 comments |

quinta-feira, março 02, 2006

da familia dos Diomedeidae

Gosto de Albatrozes.
Voam durante meses a fio aproveitando as correntes de ar marítimas, mantêm a mesma parceira para toda a vida e no entanto são viventes solitários. Têm a forma adaptada para um aeorodinamismo optimizado (os proprios olhos são rasgados, e as asas longas e pouco largas permitem-lhes planar sem o minimo esforço) e só pousam em terra quando é absolutamente necessário. Na verdade, são extremamente desajeitados fora do seu meio, o que torna as suas aterragens qualquer coisa como uma queda saida de um filme de Chaplin.
Invejo-lhes a liberdade, o azul do mar e dos céus como casa, o silêncio profundo da sua solidão, a capacidade de confiar que haverá sempre uma altura em que ela estará lá à sua espera...mais uma vez. E são grandes. Enormes.
posted by P.A., 9:59 da tarde | link | 3 comments |