quinta-feira, março 30, 2006

Pairar no tempo

Ao remexer em velhas gavetas encontrei um pequeno cartão que dizia "Casa da Árvore". Imediatamente fui transportado para uma pequena aldeia altaneia no seu castelo que, perdida nas nuvens, separa o montado alentejano das vistas mais serranas do norte. A sua posição geográfica (a 800 metros de altitude) permite-lhe mesmo ter esta capacidade de observar de cima a alteração dos horizontes. É deslumbrante. E é uma aldeiazinha adorável que é acolhida no seio da fortificação, com os seus jardins e miradouros e as suas gentes de sotaque arrastado cheio de bonomia.
A Casa da Árvore fica num largo e a sua varanda fica colada a uma das muralhas viradas a Sul, dando-nos por vista o bucólico alentejo. Acordar de manhã, comer torradas com compotas caseiras e depois voar pela paisagem ou ser acarinhado pelo sol matinal enquanto se lê um livro, é uma das sete maravilhas da minha existência. Já partilhei este cantinho do mundo com Mar no nome com pessoas que completam aquilo que sou, e sei que voltarei uma e outra vez.
Um dia vou esconder a minha alma numa pedra da velha muralha, e vou observar alguém que a procure, divertido e acreditando na possibilidade de ser "encontrado". Já o fiz em sonhos e soou-me bem. Assim como as nuvens tocam naquelas paredes milenares, assim como os sons da noite ecoam nos vales bem lá em baixo, assim como os gatos percorrem as ruas em procura de afectos estrangeiros, algo naquele local permanece imutável e fidedigno a razões mais fortes que o entendimento das coisas intemporais. Ali sou grande.


P.S. - Desculpem o Sul com maiúscula e o norte sem, não tem a ver com regionalismos mas sim com direcções de sonhos.
posted by P.A., 8:03 da tarde

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