domingo, abril 16, 2006

Balsero

É este o nome que dão aqueles que fogem de Cuba em pequenas embarcações (muitas delas artesanais) em busca de um futuro melhor. Espera-lhes um oceano cheio de perigos, águas pejadas de tubarões, espera-lhes a incerteza de vislumbrar uma Florida vistosa, uma Miami que de tão perto cheira a sonho americano. E pouco mais têm por garantido. Uma fuga. Mas fugir de uma educação, saúde e habitação gratuitas não parece muito lógico. O derradeiro país resistente numa América do Sul que tentou tornar-se socialista sofre um embargo económico por parte dos Estados Unidos há várias décadas. Quanto pode isto influenciar uma sociedade? Percorrendo as ruas de Havana não se encontram vestigios de publicidade imperialista, os únicos outdoors apelam às glorias da revolução e ao orgulho patriótico com frases do tipo: - "Hasta la vitória siempre!", - "Señores imperialistas, nós no tiemos medo!", ou esta (brilhante) com Fidel de perfil: - "Vamos bien!".
Existe pobreza e indigência, existem prisões políticas e condicionalismos ideológicos, não existe democracia...e a musica quente continua a voar na rua do café onde Hemingway gozava com a retórica em copos de rum.
Nunca nos poderemos apropriar do espírito de um balsero, das suas lágrimas na despedida, do seu suor salgado e da sua pele gretada pelo sol...a História vivida será sempre mais crua que a contada, ou neste caso, por mim romanceada em personagens de nome curto, com barba mal-semeada e a estrela vermelha na boina verde.


Perdido no meio da sierra maestra, olhei para os meus camaradas, jurei acabar com este bordel americano e devolver o orgulho ao meu povo. Não me apercebi de todas as nuances que tingem as cores da palavra Revolução. Julguei-a por um poema.
posted by P.A., 8:46 da tarde

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