sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O aquário

Numa ruazinha na baixa de Setubal há uma pequena loja de barquinhos em miniatura, quadrinhos com nós marítimos, sinos de veleiro, e outro tipo de artefactos para quem gosta de velejar ao sabor da imaginação. Tudo milimetricamente arrumado, impecavelmente organizado, existe um código de orgulho marinheiro em tudo o que está exposto, o mar sentir-se-ia inchado de vaidade se soubesse o quanto os seus adoradores lhe dedicam os sonhos.
No fundo da loja, encontrava-se um aquário. Enorme, não vistoso, mas imponente pela dimensão. Lá dentro voavam peixes coloridos, acho que demasiado perfeitos e demasiado coloridos e foi isso que nos chamou a atenção. Começou com um comentário desbocado (há sempre um comentário que nos parece descabido depois de quebrarmos o silêncio das situações incómodas) do género:
- Que aquario tão limpinho, como é que será que limpam uma coisa tão grande? Deve dar muito trabalho...
Do fundo da loja ouviu-se uma voz seca e entediada :
- Não meu senhor. Ele limpa-se a ele próprio.
A partir daí a conversa fluiu pelos caminhos percorridos do interesse dos leigos com perguntas mais ou menos pertinentes e a vontade dele de explicar o complexo ecosistema que ali subsistia. Era um deus a explicar como criar o mundo.
Coisas fantásticas como a importância da quantidade de corais e o seu papel fundamental na limpeza da água, uma estrela tipo fungo que servia de barómetro para analisar a qualidade da mesma, os fluxos de corrente necessários para recriar o ambiente de mares tropicais, até mesmo o modo como eram colocados os especimens novos no aquário tinha influência na sua adaptação (com quarentenas e tudo!!).
No fim da conversa era um homem feliz que vivia no seu mundo de pequenos peixes paradisíacos, de veleiros em ponto pequeno prontos para enfrentar tempestades herculeanamente pequenas, tudo embebido numa enorme paixão pelo mar. O mar tem esse efeito nas pessoas.
posted by P.A., 12:33 da manhã

1 Comments:

O mar tem destas coisas... Quem o prova jamais o esquece!
R.
commented by Anonymous Anónimo, 3:36 da tarde  

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