sábado, julho 15, 2006
Manel, o Guerrilheiro
Um ser de estatura baixa, mas de corpo entroncado e enrijecido pela vida de esforço. A dois passos de uma fonte que de fonte já só ostenta o nome, mete conversa depois de pedir um cigarro que mal fuma. É um homem meio perdido, ora se aborrece com a nossa negação nas insistentes tentativas de nos pagar cervejas, ora ri descontroladamente quando lhe tecemos rasgados elogios à sua selecção de futebol. Mostra despudoradamente a grande falha na sua dentição inferior quando o faz e abana a cabeça dizendo "xxiiii!!Dou graças a Deus por aqui estar!Graças a Deus!!"
Manel, de seu nome, não se cansa de dizer que não nasceu em Luanda, nasceu no interior, numa cidade de nome de português importante. Não fez escola porque aos 7 anos as forças armadas deram-lhe uma arma para disparar e só após viver trinta e muitos anos com ela na mão, decidiu finalmente fugir. Fala-nos de um país de corruptos, de riquezas inimagináveis, de colonos afáveis mas que podiam, deviam, e eles tanto queriam, que não os tivessem abandonado assim. Confunde personagens e veste-os de bons e maus num discurso difuso e pertubado, e como poderemos censurar o discernimento de homem que já matou irmãos de armas por mando superior e escapou a fuzilamentos por casuais logísticas militares. Não condena o inimigo porém.
Condena a guerra. Condena a desordem de um país mergulhado em lutas fraticidas por poder, como se não existisse povo, como se a alma de um homem se vendesse ao tacto metálico da primeira vez que tocou numa Kalashnikov. E todo o Angolano a sabe manejar, diz Manel. Todo o Angolano é Guerrilheiro.
Manel, de seu nome, não se cansa de dar Graças a Deus por estar cá...entre os que podem gastar dinheiro naquela cervejinha gelada, e o acordar amanhã cedo não é duro. Que nada. Um dia virá a senhora e os meninos mas Manel aqui quer morrer. Diz não querer voltar e vemos no seu olhar a mesma expressão tresloucada com que imita os sons pertubadores das armas que lhe marcaram a vida.
Boaventura para ti que nunca foste menino.
Manel, de seu nome, não se cansa de dizer que não nasceu em Luanda, nasceu no interior, numa cidade de nome de português importante. Não fez escola porque aos 7 anos as forças armadas deram-lhe uma arma para disparar e só após viver trinta e muitos anos com ela na mão, decidiu finalmente fugir. Fala-nos de um país de corruptos, de riquezas inimagináveis, de colonos afáveis mas que podiam, deviam, e eles tanto queriam, que não os tivessem abandonado assim. Confunde personagens e veste-os de bons e maus num discurso difuso e pertubado, e como poderemos censurar o discernimento de homem que já matou irmãos de armas por mando superior e escapou a fuzilamentos por casuais logísticas militares. Não condena o inimigo porém.
Condena a guerra. Condena a desordem de um país mergulhado em lutas fraticidas por poder, como se não existisse povo, como se a alma de um homem se vendesse ao tacto metálico da primeira vez que tocou numa Kalashnikov. E todo o Angolano a sabe manejar, diz Manel. Todo o Angolano é Guerrilheiro.
Manel, de seu nome, não se cansa de dar Graças a Deus por estar cá...entre os que podem gastar dinheiro naquela cervejinha gelada, e o acordar amanhã cedo não é duro. Que nada. Um dia virá a senhora e os meninos mas Manel aqui quer morrer. Diz não querer voltar e vemos no seu olhar a mesma expressão tresloucada com que imita os sons pertubadores das armas que lhe marcaram a vida.
Boaventura para ti que nunca foste menino.
posted by P.A., 9:05 da tarde
1 Comments:
gosto gosto gosto!
commented by colher de chá, 6:01 da tarde