segunda-feira, julho 10, 2006
O Hipopótamo e a Vaquinha
Esta estória é verídica. Foi observada por todos os felizardos que invejaram este amor.
Era uma vez um rio com margens verdejantes e férteis onde a natureza sorria diariamente a todos os animais que o visitavam. Existiam aqueles que usufriam da sua fluência rica apenas para matar a sede, outros faziam dele o seu mais precioso lar. De entre todos deste grupo os hipopótamos seriam aqueles que eram mais felizes. Os longos mergulhos, os bailados subaquácticos, a flutuação bocejada quando queriam que o sol lhes desse energias. Nas margens outro tipo de animais se serviam daquele verde banquete estival que a boa erva lhes dava. As regras de convivência cumpriam-se, os protocolos de respeito pelos contextos existênciais eram de agrado da Mãe Natureza e poder-se-ia dizer que o próprio Darwin se sentiria satisfeito por saber que todas as espécies estavam a seguir o caminho certo na sua evolução. Até ao dia. Uma vaquinha mais afoita aproximou-se em demasia da beira do rio e deu de caras com um hipopótamo que nunca tinha visto antes. Bom...mais tarde o amor a faria confessar de que já o tinha observado antes, mas como toda a gente sabe, quando a grande letra "A" está no ar dizem-se as maiores e maravilhosas mentiras. A curiosidade puxou a conversa, as diferenças entre ambos puxaram o interesse, o cupido dos animais (aqui invento sem nenhum preconceito, temos pena!) viu aquilo tudo e acertou-lhes em cheio. Começaram as longas horas de cumplicidades, os dias de olhares apaixonados, os meses de ternura e partilha de um mundo que era só deles. O resto do mundo? Incrédulos, descredibilizaram aquela paixão como sendo verdadeira, culparam a Mãe Natureza e tomaram-na por louca. Hipopótamos de um lado dizendo que talvez o nosso amigo um dia se tramasse quando tentasse comer relva e as vacas gozando com o previsivel afogamento da amiga ruminante. Indiferentes a todo este burburinho, continuavam duas metades de um só Sol, e o que os unia era justamente a liberdade que um tinha em mergulhar prazeirosamente nas suas àguas, e o vaguear pelo verde manto do outro, encontrando o lar para o seu amor naquele limite de margem em que a água lambia incessantemente a terra. Bons tempos. Leves. Ironicamente leves para personagens de tal envergadura carismática. Mas a mãe natureza foi-se apercebendo que existem regras inquebráveis e decidiu testar-lhes aquela fé. Passado o primeiro ano, a temperatura começou a aumentar brutalmente, o rio perdeu caudal, os pastos das margens perderam erva e o Hipopótamo e a Vaquinha permaneciam resolutos na afirmação da sua ligação, sem dúvida que as dificuldades eram maiores, aquele espacinho tão específico onde se podiam encontrar estava a ficar cada vez mais difícil de alcançar, o pobre coitado começou a ter de afastar cada vez mais para dentro do rio para conseguir ser engolido pelas àguas e a vaquinha procurava saciar a sua fome cada vez mais longe. Chegou ao ponto de ser visto um animal que normalmente era tão feliz nas suas tropelias no rio, andar enterrado na lama procurando quaquer vestígio de um sorriso perdido. Triste figura apresentava, um resquício do Hipopótamo que a Vaquinha em tempos tinha conhecido. Ela? Cada vez mais se perdia para longe, na sua incansável busca por erva que a alimentasse, entenda-se, a sua própria sobrevivência como ser dependia disso, fazia parte do que era, o alimento representava para si uma forma de conservação do seu ego, uma protecção que lhe era imposta.
Encontraram-se uma ultima vez. Falaram durante horas. Choraram. Falaram de esperanças e impossibilidades e de causas e consequências. Poucas respostas, no entanto.
Seguiram para outros rios e outras margens com a certeza de serem diferentes como um só.
Esta estória já foi um verso perdido numa época feliz.
Mas é real, que não hajam dúvidas.
Eu confirmo.
Era uma vez um rio com margens verdejantes e férteis onde a natureza sorria diariamente a todos os animais que o visitavam. Existiam aqueles que usufriam da sua fluência rica apenas para matar a sede, outros faziam dele o seu mais precioso lar. De entre todos deste grupo os hipopótamos seriam aqueles que eram mais felizes. Os longos mergulhos, os bailados subaquácticos, a flutuação bocejada quando queriam que o sol lhes desse energias. Nas margens outro tipo de animais se serviam daquele verde banquete estival que a boa erva lhes dava. As regras de convivência cumpriam-se, os protocolos de respeito pelos contextos existênciais eram de agrado da Mãe Natureza e poder-se-ia dizer que o próprio Darwin se sentiria satisfeito por saber que todas as espécies estavam a seguir o caminho certo na sua evolução. Até ao dia. Uma vaquinha mais afoita aproximou-se em demasia da beira do rio e deu de caras com um hipopótamo que nunca tinha visto antes. Bom...mais tarde o amor a faria confessar de que já o tinha observado antes, mas como toda a gente sabe, quando a grande letra "A" está no ar dizem-se as maiores e maravilhosas mentiras. A curiosidade puxou a conversa, as diferenças entre ambos puxaram o interesse, o cupido dos animais (aqui invento sem nenhum preconceito, temos pena!) viu aquilo tudo e acertou-lhes em cheio. Começaram as longas horas de cumplicidades, os dias de olhares apaixonados, os meses de ternura e partilha de um mundo que era só deles. O resto do mundo? Incrédulos, descredibilizaram aquela paixão como sendo verdadeira, culparam a Mãe Natureza e tomaram-na por louca. Hipopótamos de um lado dizendo que talvez o nosso amigo um dia se tramasse quando tentasse comer relva e as vacas gozando com o previsivel afogamento da amiga ruminante. Indiferentes a todo este burburinho, continuavam duas metades de um só Sol, e o que os unia era justamente a liberdade que um tinha em mergulhar prazeirosamente nas suas àguas, e o vaguear pelo verde manto do outro, encontrando o lar para o seu amor naquele limite de margem em que a água lambia incessantemente a terra. Bons tempos. Leves. Ironicamente leves para personagens de tal envergadura carismática. Mas a mãe natureza foi-se apercebendo que existem regras inquebráveis e decidiu testar-lhes aquela fé. Passado o primeiro ano, a temperatura começou a aumentar brutalmente, o rio perdeu caudal, os pastos das margens perderam erva e o Hipopótamo e a Vaquinha permaneciam resolutos na afirmação da sua ligação, sem dúvida que as dificuldades eram maiores, aquele espacinho tão específico onde se podiam encontrar estava a ficar cada vez mais difícil de alcançar, o pobre coitado começou a ter de afastar cada vez mais para dentro do rio para conseguir ser engolido pelas àguas e a vaquinha procurava saciar a sua fome cada vez mais longe. Chegou ao ponto de ser visto um animal que normalmente era tão feliz nas suas tropelias no rio, andar enterrado na lama procurando quaquer vestígio de um sorriso perdido. Triste figura apresentava, um resquício do Hipopótamo que a Vaquinha em tempos tinha conhecido. Ela? Cada vez mais se perdia para longe, na sua incansável busca por erva que a alimentasse, entenda-se, a sua própria sobrevivência como ser dependia disso, fazia parte do que era, o alimento representava para si uma forma de conservação do seu ego, uma protecção que lhe era imposta.
Encontraram-se uma ultima vez. Falaram durante horas. Choraram. Falaram de esperanças e impossibilidades e de causas e consequências. Poucas respostas, no entanto.
Seguiram para outros rios e outras margens com a certeza de serem diferentes como um só.
Esta estória já foi um verso perdido numa época feliz.
Mas é real, que não hajam dúvidas.
Eu confirmo.
posted by P.A., 3:41 da manhã
2 Comments:
commented by Anónimo, 2:39 da tarde
liiiiiiiiiindo
Um hipopótamo e uma vaquinha?!? Mas é, sem dúvida, a mais bela história de Amor que já li até hoje!
Obrigada!
OBRIGADA..