terça-feira, janeiro 16, 2007

fragmento

em "P" reconheci personagem difusa, maleável como plasticina morna, sedenta de vectores morais que lhe dirigissem o movimento, de um marco geodésico em monte distante que lhe atribuisse carisma...identidade. Eterno carneiro num rebanho de pastores, nunca saberá que tem tudo para ser. Para Ser.

em "E" encontrei uma mulher de sonho. A personificação do desejo, a companheira sem hesitações nem senãos, o fascínio da surpresa num quotidiano que nos puxa para uma monotonia carrasco. Mulher como não Homem, é um puzzle complexo de emoções e sensibilidades, alimentam-se de estranhas forças guturais que as transformam em habitantes de Olimpo, é o objecto esculpido com a mais perfeita espátula nas mãos do mais imperfeito Deus. Aprendo sempre.

em "S" deixei de acreditar. Era qualquer coisa que já foi, a desilusão tomou conta do seu espaço. Mostrou mundos num caleidoscópio colorido, embandeirou ideias que se esfarraparam com fracas brisas. Bluff. Mesmo tendo a certeza que não gosto de perder personagens, ensinou-me a ter cuidado com grandes enredos.

noutro "S" renasci. Estranha forma de vida que todos os dias encara o touro de frente, enche o peito para a fatal pega, e ainda lhe chama nomes com sorriso trocista. É o feliz por definição. Diz a lenda que por vezes anda triste, que as desditas que todos temos até o atingem. Nunca vi. Nunca assisti ao recuar de um passo, a um tremer de lábio. É a árvore com as raizes mais fortes da floresta...e só por isso, cresceu tanto que detém a vista mais sublime de todas. Um dia de cada vez.

em "O" vi o louco que criou o mundo à sua imagem, pois para ele não há padrões nem linhas convencionais de comportamento. Brilha-lhe no olhar a genialidade de um reconhecimento muito pessoal, o seu caminho é trilhado numa estrada diferente, repleta de sonhos voando tão alto quanto as suas gigantescas asas o permitem. Quero segui-lo, vogar na sua esteira com a certeza de nunca o perceber ou decifrar. É bom ter tanta côr e um sabor tão salgado.

em "A" surpreendi-me com a pureza de um coração em tão imponente armadura. Continuando na anologia de batalha, seria aquele que estaria na linha da frente, de baioneta em riste, espumando de raiva perante um inimigo que, de o ver tão perto, quase lhe sente a respiração. Mastro de navio, quilha de pranchão, fascinam-me as suas certezas e o orgulho de as ter. Desmancha-se em ébrios desinibidores, faz-se criança afável quando no conforto de quem gosta. Um dia será atirador furtivo. Vestindo um fato vermelho, claro.



PESSOA. Derivando de persona, era o nome da máscara que os actores do teatro romano usavam. Aqui descrevo apenas seis das máscaras mais fantásticas que conheço, e acreditando somos multiplos, sei que sorvo algo de cada uma delas. Sou maior por elas.
posted by P.A., 10:47 da tarde

1 Comments:

Com a "peneira" da partilha se encontram fragmentos valiosos. Uma riqueza que só um peito aberto consegue ver.
commented by Anonymous Anónimo, 3:12 da tarde  

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