quarta-feira, novembro 15, 2006

Little Miss Sunshine



Imagine-se o prato mais batido de todas as tascas de esquina.
Imagine-se o Bitoque. Não se pode fugir ao bife com arroz e batatas e ovo a cavalo, não se pode fugir a essa previsibilidade degustativa, sabemos ao que vamos.
Assim é o cartaz deste filme. Cheira a vulgaridade, a mais uma banal comédia revelando as ridículas peripécias de uma família em viagem. Uma espécie de "road trip" versão familiar. E então começa o espanto das personagens meticulosamente esculpidas, dos desencontros nos diálogos e dos infernos disfuncionais que sobrevivem debaixo de um tecto a que chamamos lar.
Aqui o tecto é personificado numa carrinha que por si também tem algo a dizer, as suas susceptilidades criam a atmosfera do imprevisto, surreal o suficiente para soltar os nervos de mais uma discussão.
O elo que une esta familia é a ingenuidade da palavra sucesso, que carrega às costas a tolerância de um dia-a-dia repleto de falsidades. Existe qualquer coisa de metamorfose kafkiana no terminus deste filme. Faz-nos pensar que o conceito de normalidade foi inventado por um perfeito freak.
Para rir, muito.
Com vontade de sermos ainda mais humanos no erro.


p.s. - provavelmente a associação de ideias será descabida, mas gosto de pensar que "Little Miss Sunshine" questiona muito a maneira como comunicamos com quem gostamos.
Fascinemo-nos então, aqui (grazie mille Gi).
posted by P.A., 3:16 da manhã

2 Comments:

Nestes dias cinzentos (que por acaso gosto) a única forma de me arrancarem do sofá e desviarem a minha atenção dos livros, é desafiarem-me para uma boa comédia. Ontem foi um desses dias e acho que ficava mais bem servida se tivesse visto este filme. Mas pronto já está anotado para a próxima saída :O)
Jinho
commented by Blogger Gi, 3:19 da tarde  
obrigada pelo conselho. fica a lembrança e a vontade de ir ver. :)
ah, e já agora, fica tb um beijo.
commented by Blogger colher de chá, 12:26 da manhã  

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