quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A rosa branca

"Era uma rosa branca no meio de outras flores.
Quedavam-se junto da estátua de Nossa Senhora, numa igreja perdida num bairro de lisboa. (...)"

Cada história tem um principio, e isto é tudo o que sei dela. Permite-me agora o devaneio de a extrapolar, como um doce, como um pedaço aveludado da tua vida que tão pouco partilhas...meu amigo.

"(...) A luz morria nas fachadas escondidas, a cidade terminava o seu reboliço em gestos torpes, nas expressões de fastio no regresso aos suburbios. Duas almas fugiam ao negativismo desta fuga, entregavam-se ao prazer inadiável do tempo infindo, tinham (tal como numa fotografia a preto e branco) a presença acarinhada pelas ruas, as escadas encavalitadas escutavam-lhes os segredos, as árvores nas pracetas protegiam-lhes os sonhos.
Poder-se-ia imaginar o que falavam.
Poder-se-ia pensar que o tom seria de côr carmin, mas sombras cobriam as palavras e os movimentos.
Pararam o espaço naquele largo.
Sentaram-se num banco. Em lágrimas e prantos murmurados ela perdia-se cada vez mais numa luta desigual consigo mesma, não queria acreditar no que acontecia. Triste, ele afagava-lhe o cabelo num acto de desespero repetido e nervoso, as coisas certas que se diriam agora pareciam-lhe futeis e longe da grandeza do que eram. Entregou-lhe a rosa que tinha trazido do restaurante. Como uma súplica, pediu-lhe que reconsiderasse, que olhasse para trás e que sentisse de novo aquele travo a loucura desmedida, o pautar de uma paixão de dois desiludidos do amor, a simbiose que lhes derrubou as defesas e os fez um só.
Ninguém lhes tinha dito que amar tanto, doi.
Como um animal acossado, pegou na rosa e caminhou em direcção ao adro da igreja, cabisbaixa e silenciosa. Olhou para trás quando estava na porta entreaberta...ergueu a voz para o alto das notas fortes, como se parecesse segura:

- Amas-me? Amas-me como dizes e és o que vejo? Então vai correr tudo bem.

Entrou no local sagrado e procurou o conforto da Nossa Senhora, entregou-lhe um desejo em forma de rosa branca, retirou-lhe três petalas...e voltou para os braços dele.
Prometeram selar naquela flôr todos os medos, angustias e vicissitudes que lhes atacaram o paraíso. O amor tomou forma de sacrifício devoto a algo maior."




p.s. - surpreendes-me sempre. Obrigado.
posted by P.A., 1:29 da manhã

1 Comments:

muito,muito bonito.. como sempre.
commented by Anonymous Anónimo, 6:30 da tarde  

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