terça-feira, abril 17, 2007

"Tá-se bem! Tá-se bem!... do lado do cu do Cristo Rei"

Parafraseio os deliciosos O´questrada neste curioso orgulho que é indelével neste povo.
Por mera curiosidade histórica descobri que a origem da palavra "Almada" provinha de uma tranformação da expressão árabe "A Mina". Ora, relegando a mim e a todos os meus mitras irmãos o direito de podermos bater no peito esta tão forte atitude, é sem pejo que acredito que sim, de facto, Almada é uma mina de pessoas especiais. Passo a explanar...

Começo pela mulher mais sedutora do mundo..Lisboa. Quem a vê curvilinea, deitada em frente ao Tejo, cheia de humores e subtilezas, cambiantes sorrisos e voz solta naquele fado, com rugas segredos e miradouros lagrimas por ter um céu azul como ninguém, sabe que é normal amá-la. Sabe que Lisboa tem amantes fieis, uns mais ecléticos, outros mais febris, mas todos lhe dependem a existência. Pois de todos, Almada é a que mais ama. Pois de todos, Almada é a que mais sofre.
Qualquer viga daquela ponte, qualquer parafuso daqueles barcos, já foi abalroado por bucólicos pensamentos existênciais, típicos de quem sonha, de quem vive em doce tormento. Mergulhar na cidade como quem sobrevoa um leito, é um privilégio. Deixar que o Tejo nos embale enquanto nos escuta...também. Perdi-me vezes demais naquele regresso a casa em que vi ao longe o mar em tons púrpura e virei o rosto para ver a lua brindar o rio com um manto de prata. Encontrei forças nas manhãs mais difíceis quando a senti ganhar cor aos primeiros raios de luz.
Sei o que tenho e sei o que temos. No romance eterno de um rio e em que todas as vistas são para ela, trouxemos o corpo ao repouso depois de lhe entregarmos a Alma. Confortáveis, deixamos o zoar da rendilhada ponte (vermelho veia) e o matraquear dos velhinhos barcos laranja que navegam com gaivotas e pessoas e olhares perdidos no horizonte.

Porque é do Sul que o poema nasce.
Porque é a ultima voz de esquerda que o Tejo ouve, antes de ser mar.
Porque ter um Cristo que nos volta as costas, dá-nos toda a liberdade para sermos justos.
Assim somos especiais, sim.



posted by P.A., 10:03 da tarde

6 Comments:

Já cá tinha estado mas sem tempo para comentar as tuas palavras sobre esta Lisboa que eu amo. A minha terra. A minha tela pintada em tons de azul que me dá o bons
dias, em forma de poema, sempre que a olho.
Um olhar privilegiado desta margem sim, eu também o tenho. è mesmo "uma mina" porque nos faculta uma galeria de imagens , uma exposição permanente que nos deleita. Especiais sim, porque a podemos amar.
A tela está lá, a tua escrita foi a assinatura. Gostei muito.

Um beijo, ou melhor, muitos (que eu sou generosa :) )
commented by Blogger Gi, 11:10 da tarde  
quando me ensinas a escrever assim? quando me tapas os olhos e me ensinas a ver as coisas como tu?
que lindo, P.A. que lindo. :,)
commented by Blogger colher de chá, 11:44 da manhã  
voltaste com força...gosto de ver!
commented by Anonymous Anónimo, 2:36 da tarde  
Fui resistente ao teu fascínio orgulhoso.Vou-me submetendo ao seu mistério e aos seus. Sou turista.Quem se acolhe no seu berço, sente o seu amor, sofre as suas penas, a conhece.
Como os O'questrada também cantaste Almada. Ao "tom" do teu olhar, percorrendo espaço e tempo, foste guia de um Sentimento,uma forma de estar, de viver.
Para Almada mater, não és um filho grato, mais, és um filho feliz.
Mas, eu agradeço.
Gosto muito da tua "música", dos ritmos que seguem pelo olhar e vêm dançar cá dentro.
(Os que muitos chamam "lirismo" é a honestidade na coragem de ver, sentir e aceitar.)
E, tá-se bem, qual o problema!?!?
commented by Anonymous Anónimo, 3:20 da manhã  
já viste q ganhaste um prémio lá na minha Rua Quieta?
commented by Blogger colher de chá, 11:12 da manhã  
Mas alguém será capaz de me explicar qual a razão porque o cristo rei está voltado de costas para o sul?
commented by Anonymous Anónimo, 2:05 da tarde  

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